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O verão da Chaina

Carlito Peixoto Lima 16/07/2023
O verão da Chaina
Carlito Peixoto - Foto: Assessoria

Praia da Avenida da Paz

No início do século XX o bairro de Bebedouro era o mais chique, o mais festeiro, o mais rico da cidade de Maceió. Muitas mansões, bonitos palacetes, colégios embelezando o bairro. (Infelizmente, recentemente, a fábrica BRASKEM afundou seis bairros à beira da Lagoa Mundaú, inclusive Bebedouro, por conta de uma descabida, ambiciosa mineração de Salgema na Lagoa Mundaú). Nos anos 1930 Bebedouro foi desbancado como bairro chique da cidade pela urbanização da praia da Avenida da Paz.

No final da 1ª Guerra Mundial (1914-1918), o prefeito de Maceió, Firmino Vasconcelos, comemorou o fim da guerra com uma festa na praia do Aterro e prometeu naquele local construir a Avenida da Paz. Terminada a obra em 1922, a burguesia, a classe média começou a construir bangalôs e casarões na Avenida da Paz, no bairro de Jaraguá e o bairro de Bebedouro foi desbancado. Nessa época apareceu a moda do “banho salgado”, que depois passou a ser chamado de banho de mar. A mulherada moderninha vestia maiô até o joelho e caía na água. O sucesso das mulheres era uma provocação entre os homens. Para alguns moradores mais antigos da cidade, o maiô até o joelho escandalizou; uma sem-vergonhice usar aqueles trajes indecentes. Vinham homens, velhos e meninos do interior apreciar as modernas senhoritas com maiô mostrando a batata das pernas. Causava reboliço entre os marmanjos. Nessa época também foram aparecendo os primeiros “tarados”.

O tempo foi passando e a mulherada diminuiu o tamanho do maiô, subindo à metade das coxas. Quanto mais reduzia o tamanho do maiô, mais aumentavam os discípulos de Onã na bela praia da Avenida.

Em meados da década de 1950 nós jovens éramos maloqueiros de praia. Nadávamos singrando a calmaria do mar. Pulávamos da cumeeira dos trapiches que se estendiam mar adentro, jogávamos futebol na areia dura, molhada, pescávamos nas jangadas, puxando rede. Entretanto, o que mais apreciávamos, o nosso esporte predileto, era ficar olhando, que nem jacaré, as belas mulheres que se estendiam deitadas na areia para pegar um bronzeado.

É próprio do homem o “voyeurismo”, o olhar, o apreciar os encantos da mulher. Alguns não se controlam, e praticam o onanismo nas mais esdrúxulas situações. Apanhados em flagrante são taxados de pervertidos. Naquela época, nós meninos com cara de santinho passávamos pelas rodas de conversa na praia com as moças descontraídas. Quando entravam na água, não havia quem segurasse.

Gaguinho era um mestre. Ele aproximava-se das moças, deitava de bruços, cavava uma cova adaptada a sua mão, e dava estímulo às suas fantasias. Certa vez, um amigo percebeu o Gaguinho em posição de trincheira perto de sua gostosa irmã. Ele foi se chegando por trás, devagar, de repente virou o Gaguinho que estava em vias da apoteose final. Levaram o “tarado” para a Delegacia de Jaraguá. Ficou preso e sumiu por um tempo da praia.

Certo verão ela apareceu! Foi o primeiro biquíni em Maceió. Uma bonita ruiva, dizia-se atriz, hóspede do Hotel Atlântico. Toda manhã descia à praia. Como se fosse uma liturgia, estendia uma toalha, enfiava o pau da barraca na areia, armava a sombrinha. Ainda em pé, descobria sua blusa devagar, como se tivesse preguiça, aparecia a parte superior do biquíni diminutamente cobrindo seus belos seios. Em seguida, como se fizesse um strip-tease, descia lentamente o short requebrando os quadris em movimentos harmoniosos, sensuais, até transpassá-lo por baixo dos pés. Finalmente levantava o short com o pé direito como se chutasse o vento, dobrava o short, a blusa, arrumava-os num monte junto à sombrinha. Deitava-se de bruços, deixando o sol acariciar suas pernas, seu dorso, sua bunda. Foi o maravilhoso espetáculo daquele verão. Os homens se deliciavam com o ritual sensual da musa dos cabelos de fogo.

A deusa amarrava sua cachorrinha de nome Chaina no pau da sombrinha. Às vezes a cachorrinha se soltava e corria pela praia para alegria da moçada que tentava alcançá-la. Capturada a pequenez, o sortudo se aproximava e entregava a cachorrinha à dona, recebendo os agradecimentos com um beijo na face. De perto o sortudo apreciava as penugens douradas das coxas da dona. Depois que a Chaina começou a frequentar a praia, o número de banhistas, principalmente homens, aumentou nos mares da Avenida da Paz. Foi a primeira atração turística de Maceió.