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O parto no Jeep
Corria o ano de 1968. Era doutorando de medicina e como tal tinha treinamento em emergência. Dava plantão no pronto socorro. Era comum o transporte de pacientes grávidas em estado de iminência de parto.
Um dia, numa madrugada chuvosa, fomos atender a um chamado no bairro do então “grutão”, hoje Murilópolis. Chovia torrencialmente nesse momento. O transporte era um jeep, sem o devido conforto para o transporte de pacientes, especialmente de parturientes em estado pré-parto.
Ali, no Grutão quando chovia, a estrada ficava quase que intransitável, mesmo com carros de tração nas 04 rodas. A ida foi uma beleza, especialmente na confiança de um carro de tamanho porte. Não imaginávamos que a rua ficaria sem condições de tráfego, pois o solo era composto de um verdadeiro Massapê.
Na volta, após haver localizado o endereço da parturiente, o que muitas vezes demandava tempo, tendo em vista a numeração irregular das residências, conseguimos achar o endereço.
Enquanto perdíamos tempo neste sentido, o temporal aumentava cada vez mais. Uma vez localizada a residência da parturiente, tomamos o caminho de volta, pela mesma estrada. Não havia outra saída. A situação daqueles moradores era precária, sem dispor de transporte coletivo.
Ao decermos a baixada, verificamos um verdadeiro alagamento que “metia medo” até de cobrir o veículo. Disse para o motorista que era habituado a essas aventuras, que engrenasse o sistema dianteiro, antes de tentar vencer o aguaceiro.
Diversas tentativas foram feitas, mas em vão. E pior é que a nossa cliente começou a entrar em trabalho de parto. Não tivemos outra alternativa, senão entrar em ação, isto é, fazer o parto em condições extremas, primeiro pelo ambiente exíguo, do ponto de vista de espaço e, segundo, condições sanitárias precárias.
Mesmo assim, tomamos a decisão de ajudar a parturiente nesse afer. O motorista iluminando com uma lanterna e o auxiliar de enfermagem me ajudando no ato de trabalho de parto nessas condições precárias. O que eu temia era a criança vir de nádegas que exigia manobras para direcionar o feto em situação cefálica, o que seria impossível de ser realizada. Mas graças à Deus, correu tudo bem. Conseguimos agasalhar o recém-nascido, pois fazia muito frio. Esse registro é interessante para que o médico tome decisões nessas horas, pois em determinadas circunstancias o paciente morre apesar da presença do médico.
Passei por todas as cadeiras do ensino médico, tendo em vista que ia ser clínico.
Na hora da necessidade, não se quer saber qual a especialidade do profissional, o que se precisa é de ação no momento preciso.
Que sirva de alerta para os jovens médicos, pois não se pode ter indecisão nessa hora
Nesse momento quando duas vidas estão em jogo. É preciso se preparar para os momentos inesperados. O hospital de pronto socorro nos ensina a tomar decisão no momento certo.
Uma vez terminado o trabalho de parto, era hora de partirmos em direção à maternidade, a fim de que os cuidados necessários fossem tomados.
A mãe da criança, que era do sexo feminino, perguntava: “Doutor, a minha filha está bem?” respondia que sim, “Olha aqui, a bebê chorando e respirando bem. Vamos aguardar que o temporal passe, para podermos sair daqui. “Dentro de alguns minutos a chuva diminuiu e empreendemos a volta deixando mãe e filha sob os cuidados da maternidade, comunicando a precariedade em que foi realizado o parto.
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