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Uma aventura de meu primo Cuca

Carlito Peixoto Lima 02/07/2023
Uma aventura de meu primo Cuca
Carlito Peixoto - Foto: Assessoria

Beth, Sofia e Gina eram três irmãs jovens e bonitas. Seus nomes foram homenagens às artistas de cinema: Elizabeth Taylor, Sofia Loren e Gina Lollobrígida. As moças não perdiam em beleza para as três celebridades da época. Sua família morava em Jaraguá, na Rua do Queimado. Quando elas, sempre juntas, de biquíni, desciam à praia da Avenida da Paz, nós, mancebos maloqueiros, interrompíamos o futebol, a bola parava para apreciar a entrada triunfal daquelas magníficas jovens, fonte de inspiração dos tarados, que dentro d’água se possuíam na sua intenção, como diria Martinho da Vila em seu samba.

Acontece que elas tinham um irmão mais velho; alto, forte, sua musculatura mantida por contínuos exercícios contrastava com o cérebro do rapaz do tamanho de uma ervilha. Tucão era conhecido por sua valentia, aliás, por suas brigas. Era o maior arruaceiro do bairro e da zona das mulheres da vida em Jaraguá. Certa vez brigou com quatro policiais, foi preso, espancado. Passou a detestar qualquer tipo de polícia. Contudo, Tucão tinha um sentimento nobre: o afeto pelas irmãs. De um ciúme doentio, partia para briga quando o chamavam de cunhado ou qualquer comentário que suas irmãs eram “boas”.

Em certa ocasião, meu querido e saudoso primo Alberto Lima, de apelido Cuca, encantou-se com a mais nova e engrenou um namoro com Gina. Namoro casto, como era naquela época, mão na mão, de vez em quando um beijinho. Sempre com a fiscalização ostensiva de Tucão, que era contra o namoro de qualquer irmã.

Certa noite, depois do namoro comportado com Gina, Cuca, ao passar dirigindo devagar pelo Beco Vitória, avistou Julieta, jovem destrambelhada, conhecida como avançada, que sorriu descaradamente para Cuca. Este prontamente parou o jipe e ela sentou-se ao lado. Foram para numa sessão de amor enlevado pela brisa marinha por trás do Posto de Salvamento da praia do Sobral.

Cuca estava feliz. Toda noite namorava de beijinhos com sua amada Gina, depois pegava Julieta no jipe e faziam amor sob o carinho da brisa.

Certa vez Beth, a cunhada, percebeu quando Cuca apanhou Julieta no jipe para mais uma sessão de amor. Na noite seguinte, quando ele encostou à casa de Gina, ela estava uma fera, namoro acabado, não admitia ser traída por ninguém no mundo. Nesse momento apareceu Tucão arregaçando as mangas da camisa, cara trancada, falando alto que irmã dele não levava chifre. Cuca na hora tomou um susto. Brigar com Tucão era apanhar na certa, levaria uma surra histórica. Com presença de espírito, ele convidou Tucão para tomar uma bebida e conversar. Beber de graça era tentação irresistível para o arruaceiro. Foram para um bar por perto, serviram cerveja, pinga e tira-gosto. Cuca explicou que Julieta era só para se divertir, ele gostava mesmo de Gina, namoro para casamento e coisa e tal. No campo da astúcia Cuca ganhava tranquilo do mastodonte.

Aconteceu uma noitada de muita bebida, passaram por bares diferentes. Tucão, aonde chegava, provocava alguém, a sorte é que os provocados tiravam o corpo fora. Noite adentro e Tucão na maior amizade com Cuca, chamando-o de cunhado. Em certo momento, o desordeiro inventou de visitar às boates de mulheres. Cuca, esperando que a noitada terminasse, acabou concordando. Partiram rumo a Jaraguá. Ao passar no final do calçadão da Avenida da Paz, Tucão, bêbado, pediu para parar o jipe e saltou. Dirigiu-se a dois policiais, uma dupla de Cosme e Damião que fazia ronda. Cuca não acreditou quando assistiu Tucão se aproximar dos soldados e desfechar um murro em cada um, deixando-os no chão, ainda deu ponta pé, recolheu dois capacetes e correu para o jipe. Cuca, assustado, deu partida e por insistência parou e subiram à Boate Tabariz. Sentados à mesa, Tucão colocou o capacete em sua cabeça e colocou o outro na cabeça de Cuca. Pediram cachaça, olharam as mulheres. Depois da primeira dose Cuca conseguiu tirar o capacete, colocou-o embaixo na mesa, estava apreensivo com aquela loucura do “cunhado”.

Em certo momento Cuca foi ao sanitário. Ao retornar percebeu a confusão. Cinco policiais xingando e batendo em Tucão, seguro por trás. Cuca saiu furtivamente do banheiro, sem ser percebido, desceu a escada íngreme de um salto. Teve sorte, não havia policial perto de seu jipe. Deu a partida e chegou em sua casa, aliviado. No dia seguinte, soube do acontecido por amigos. Tucão brigou com os cinco policiais, levou muita porrada, amarraram o arruaceiro, levaram preso para a 2ª Delegacia, onde lhe deram uma surra inesquecível.

Cuca esqueceu a bela Gina, por muito tempo ficou sem passar perto da casa da jovem nos arredores da Rua do Queimado. Evitou pelo resto da vida encontrar-se com Tucão, seu ex-cunhado. Porém, sobrou-lhe a fogosa serelepe, Julieta. Continuaram se refrescando pela brisa marinha por trás do Posto de Salvamento na praia do Sobral.

Meu querido primo Cuca tornou-se grande advogado com excelente escritório. Trabalhador, amava a profissão e seus amigos. Casou-se com o amor de toda vida, sua vizinha, Wilmene Wanderley. Cuca vivia em eternas brigas com o primo-irmão Lelé desde que nasceram em 1945. Eles se amavam, se entendiam. Quando Cuca morreu, Lelé chorava e perguntava: Com quem vou brigar agora? Meu querido primo deixou um vazio impreenchível, mas sempre é lembrado nos divertidos almoços dos Meninos da Avenida.