Artigos
Mulheres conforme a época
É um tanto difícil compreender épocas passadas; dos que se esforçam à tarefa, muito\as formam conclusões afetado\as por concepções valorativas atuais. De toda sorte, é certo dizer que as importâncias eram outras e eram arraigadas; formavam uma tradição irrefletida, justificante do estado de coisas posto, com submissão resoluta a ele. A maioria das pessoas, tal qual antes, embora aceite maior variedade deles, cumpre costumes.
Alguns hábitos, inclusive, não obstante muito praticados e prestigiados, nem sequer são entendidos. Por exemplo, no mundo semita (origem de judeus, cristãos e muçulmanos) havia acertos entre chefes de clãs, objetivando arranjar mulheres para seus filhos. Concluída a transação, ocorria uma cerimônia: o chefe adjudicava a mulher negociada ao adquirente. Ela de vestido branco e longo, cabelos cobertos por véu.
Bem, tal e qual se fazia, ainda se faz. Nos casamentos de hoje em dia o pai leva a filha e entrega-a a um homem. Ela usa vestido branco e longo e cobre-se com um véu. Essa filha não tem ideia, nem se preocupará em tê-la, do que significam os atos cerimoniais ou as suas vestes. Participa feliz, sem compreendê-lo ou mesmo indagá-lo, de um ritual milenar e ultrajante para as mulheres: ela “está” objeto de escambo.
As mulheres, pelos tempos, sempre foram coisificadas. Eram negociadas, usadas, revendidas, e os esposos, que delas dispunham, podiam castigá-las e até matá-las, simplesmente. Não faz muito tempo, se não se comportassem ao gosto do homem, ou não se adaptassem às suas variações de humor, caíam nos rancores do seu senhor. Acentuo que coisas tais quais estas eram praticadas dentro do mais absoluto padrão de normalidade.
Mais recentemente, diminuíram as brutalidades, mas não vai longe a época em que as mulheres não votavam, não podiam negociar, não tinham conta em banco sem licença do marido e não opinavam coisa nenhuma sobre o futuro dos filhos. Raramente estudavam. Desnecessário dizer que a submissão a essas injunções de ordem econômica, social e mesmo moral decorria não só dos costumes, mas, também, de normas legais.
O gênero feminino iniciou as lides de conquista do estatuto próprio que goza hoje a partir da Segunda Guerra (1939-1945), mas a maioria só alcançou o status de dona de casa, dando curso à sua sempre condição de ente da vida privada, de restrição às referências domésticas. Liberdade, nos termos atuais, foi ganho dos movimentos jovens e feministas dos anos 1960. De lá para cá, a ocupação social que as mulheres empreenderam mudou tudo. Elas simplesmente concorrem com os homens, sem ficar a dever-lhes nada, e em diversos assuntos levam vantagem.
Bem, isso tudo é coisa sabida. O que aparece como novidade boa de se noticiar é o que há em comum nos conceitos e expectativas existenciais de ambos os sexos. Pesquisas realizadas pelo Ibope, citadas por Vera Fiori (Estadão, 09ago09), trazem informações muito interessantes. Quanto ao futuro: 12% deles e 11% delas querem comprar uma casa; 9% de ambos os sexos pretendem reformar o imóvel; 8% deles e 7% delas desejam o primeiro automóvel; 3% deles e 5% delas sonham com a faculdade. Sobre o uso do tempo, 55% de ambos os sexos preferem qualidade de vida a ganhar dinheiro;
Mesmo no que perdura diferente, já as coisas se atenuam: quanto a aproveitar o momento ou preocupar-se com o futuro, os homens são um pouco mais atentos, 36% a 32%; acerca de baladas, 73% deles e 70% delas preferem uma noite calma; relativamente a tarefas domésticas, 87% delas defende o compartilhamento, eles, menos, ficam em 80% (tenho dúvidas de que tantos atendam aos deveres domésticos); 18% deles e 12% delas entendem que macho não chora; 74% deles e 72% delas avaliam importante estar atraente para o sexo oposto.
Creio que a separação rígida de papéis atribuídos a homens e a mulheres é coisa que se vai perdendo no tempo. A pesquisa mostra que restam ainda algumas diferenças significativas. No principal da vida, contudo, as pessoas estão mais companheiras. Homem e mulher com igualdade de deveres e direitos diante do mundo, somando esforços, sem essa de fêmea domesticada ou macho provedor. Bem melhor que seja assim. Passar uma camisa, servir uma comidinha ou abrir a porta do carro, por gesto de qualquer gênero, continua encantador, mais como gentileza, menos como obrigação.
Mais lidas
-
1CAPOTAMENTO DE ÔNIBUS
Tragédia na Serra da Barriga: Número de mortos chega a 18 após falecimento de criança no HGE
-
2STF
Mídia: ministros do STF indicados por Bolsonaro podem ficar fora de julgamento sobre plano de golpe
-
3SEGURANÇA
IML de Maceió divulga relação de vítimas de acidente em União dos Palmares
-
4MAIS SEGURANÇA
Após acidente, Paulo Dantas anuncia medidas de segurança na Serra da Barriga, em União dos Palmares
-
5FIM DO CERTAME
Concurso de cartórios em Alagoas chega ao fim com resultado prestes a ser divulgado