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Escolher o mal é abusar da liberdade
Há um velho ditado mineiro, repetido muitas vezes pelo falecido Tancredo Neves, que afirma que nós temos dois ouvidos, dois olhos e uma boca e, por isso, deveríamos procurar enxergar bem, ouvir atentamente e, se possível, deveríamos falar apenas o necessário.
Acabei descobrindo em minhas leituras, que não me largam, que o referido dito popular teria sido proferido primeiramente pelo filósofo Zenão a um jovem petulante, conforme nos conta Diógenes Laércio, em seu livro “Vidas y opiniones de los filósofos ilustres y de cada escuela filosófica”.
Seja como for, pouco importa pela boa de quem chegou tal conselho tenha até nós, porque o dito é uma verdade cristalina e, por isso, uma verdade difícil de ser ouvida e, mais difícil ainda, de ser admitida e aplicada em nossa porca vida.
É difícil porque apenas ouvimos bem, apenas enxergamos atentamente, quando realmente desejamos conhecer a verdade a respeito de algo para que, desse modo, sua luz venha a dissipar as sombras do engano e do erro que habitam o fundo insondável do nosso ser.
Quando permitimos que a verdade alumie nosso entendimento, num primeiro momento, um suave manto de silêncio recai sobre nossos lábios e cala as murmurações e alaridos que agitam nossa alma desordenada, centrando-a na realidade da vida.
Mas, como na maioria das vezes não é a luz da verdade, que sapeca todas as ervas-daninhas do engano que crescem em nosso coração, que nós procuramos, mas sim, a sombra das nossas opiniões levianas, formuladas no calor do momento, acabamos usando mal e porcamente os nossos olhos, ouvidos e boca.
Pior! Procedendo desse jeitão tosco, acreditamos, de forma tola, que estamos agindo livremente, exercitando um “sei lá o quê” que chamamos de “nossa criticidade”.
A respeito disso, São Francisco de Sales, de forma pontual, nos lembra que nosso livre-arbítrio, e bem como o nosso entendimento, jamais são tão livres como quando se permitem ser escravos da verdade porque, como todos nós muito bem sabemos, mas, mesmo assim, ignoramos, a verdade liberta, o seu contrário não.
Não apenas isso. O mesmo nos lembra, também, que nosso entendimento e livre-arbítrio jamais são tão vilmente escravizados como quando servem à nossa vontade desordenada e aos caprichos que dela nascem e, por isso mesmo, seja tão difícil calar e, mais difícil ainda, parar para ouvir atentamente e enxergar zelosamente as verdades que se apresentam diante de nossos vistas e que, com discrição, se aproximam dos nossos sentidos.
Obviamente que há muitas outras circunstâncias que nos impelem a entregarmo-nos a esse tipo de impostura, não tenho dúvida alguma que existem, porém, todas elas tem lá o seu pezinho nessa questão cabeluda que procuramos apresentar nessas linhas tortas.
Desde a aurora dos tempos, até os dias atuais, a humanidade insiste em dar atenção para as línguas bipartidas com seus colóquios maliciosos que, por meio dos mais variados subterfúgios, nos instigam a usarmos de forma indevida e desmedida o preciosíssimo dom da palavra, seja no traçado da escrita ou nas modulações da falada.
Por essas e outras que o conselho de Zenão, ecoado pelo povo mineiro e repercutido por Tancredo Neves, permanece atualíssimo e, por isso mesmo, ele acaba sendo vaidosamente desdenhado por cada um de nós.
Enfim, não é à toa, nem por acaso, que falamos tanta bobagem, não é mesmo? Pois é.
Então, só pra variar, vamos nos calar um pouquinho. Calemo-nos para ouvir melhor tudo aquilo que, até o momento, ignoramos tão soberbamente.
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