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Pelé no dicionário

Arnaldo Niskier 23/05/2023
Pelé no dicionário
Arnaldo Niskier - Foto: Arquivo

É um ato de pura justiça. Dar a Pelé uma projeção eterna, reservando para ele um lugar nos dicionários produzidos em língua portuguesa. Diria mais: nos dicionários e também no vocabulário editado pela Academia Brasileira de Letras, com o significado claro do verbete: “é aquele fora do comum”. Vale para o futebol, mas se aplica a quem se destaque em qualquer outra atividade da vida nacional. Pode ser um substantivo ou adjetivo : “Ele é um novo Pelé do futebol” ou “Ela é a Pelé do voleibol feminino.” Está no verbete: “Que ou aquele que é fora do comum, que ou quem, em virtude de sua qualidade, valor ou superioridade não pode ser igualado a nada ou ninguém, assim como Pelé, apelido de Edson Arantes do Nascimento (1940-1922), considerado o maior atleta de todos os tempos: excepcional, incomparável, único.”

A campanha para que ele se torne verbete foi iniciada pela Pelé Foundation.

E chegou ao Dicionário Michaelis, mas foi desde logo adotada por outras instituições, como a Academia Brasileira de Letras, que zela pela nossa língua e literatura. A sua Comissão de Lexicografia e Lexicologia, presidida pelo especialista Evanildo Bechara, aprovou a ideia por considerá-la oportuna e justa.

Em nosso caso, manifestamos o nosso entusiasmo. Conhecemos Pelé quando ele se preparava para a Copa do Mundo de 1958, na Suécia. Bem jovem, nos treinos de Araxá e Poços de Caldas, o atleta do Santos F.C. arrancava a admiração do técnico Vicente Feola, que logo o colocou no ataque brasileiro, como efetivo. Brilhou nos jogos em Estocolmo e foi motivo de comentários elogiosos da “Manchete Esportiva”, para a qual eu trabalhava, por sugestão do chefe Augusto Falcão Rodrigues.

Um dia, na cidade mineira de Poços de Caldas, um grupo de jornalistas desafiou alguns atletas da seleção brasileira para uma animada “pelada”. É claro que levamos um banho daqueles, mas ficou registrado um fato histórico: jogamos ao lado de Pelé, Zagallo, Vavá e outros craques inesquecíveis. Pelé, na ocasião, sequer tinha feito 18 anos e já era um craque.

Agora, virou um verbete que vai iluminar dicionários e vocabulários. Para um atleta, poderá existir honra maior? Dificilmente surgirá um outro Pelé em nossa história. Pelo menos na atual geração. A oficialização do nome de Pelé é algo que enobrece o nosso futebol e também a cultura brasileira, pois a sua carreira transcendeu o campo esportivo, para se tornar uma razão de orgulho nacional.