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Cada vez mais livre
Costumeiramente acordo cedo para contemplar o oceano a espreguiçar, enquanto as estrelas teimam por enfeitar o céu, assistindo o sol preparando-se para nascer. Encanta-me chegar a praia nessa essa hora, quando a areia que o mar lavou ainda está limpinha, convidando-me para nela, descalço, deixar inúmeras pegadas.
Com o calmo surgimento do astro rei, lá onde as nuvens encontram o Atlântico, a manhã começa a se apresentar com aspecto nítido no ar leve; rapidamente mergulho e sinto a água fazer-me bem, pois ao salgar o corpo, consigo adocicar a alma, principalmente quando se trata do dia em que celebro meu nascimento, marco de nova jornada existencial, mais doze meses para cumprir.
Que coisa! De ano em ano, vejo o tempo passando, estações mudando, cabelos prateados aflorando, e noto intensa evolução do meu ser perante esse vasto mundo.
Anualmente separo algumas horas nessa data, para refletir sobre o acontecido, pessoas amadas que perdi ou ganhei e até meditar sobre as fraquezas de muitos, características peculiares dos seres humanos. Aprecio pensar nos caminhos trilhados até aqui, e me preparar para o que ainda há de vir. Acho isso tudo uma alegria imensurável.
Parece que foi ontem: festinhas preparadas por meus pais para celebrar meu natalício, expectativa de poder assistir no cinema São Luiz, o então mais charmoso de Maceió, a filmes proibidos para menores de quatorze anos, e até pensar como seria ao obter carteira de motorista, título de eleitor, primeira namorada, e a sonhada aprovação no vestibular de engenharia civil na Universidade Federal de Alagoas.
Tudo passa rápido, atualmente, facilmente enxergo ser a existência, fruto da decisão de cada momento, como aprendi ainda bem jovem quando da evangelização, que hoje renovo ao acompanhar meus netos preparando-se para a primeira eucaristia, e definitivamente aceito ser a vida embasada em um constante semear.
Recordo, dias atrás estava em consultório médico a espera de atendimento, quando fui abordado por determinada senhora, que cheia de entusiasmo, citando meu nome, falou lembrar-se quando três décadas atrás, como paraninfo, participei da solenidade de colação de grau de sua filha, em Arquitetura da UFAL. Segundo ela, meu discurso tornou-se marcante em sua mente.
Fiquei feliz e até vaidoso com a menção escutada, pois sempre entendi que viver é tomar atitudes de constante semeadura, de deixar cair no jardim de nossa existência, os mais diversos tipos de grãos vindos do canteiro em que nos transformamos, os quais poderão ou não germinar. E irremediavelmente, em determinada ocasião, tudo o que silenciosamente plantamos ou até permitimos plantar em nós, será árvore cuja envergadura poderá ser vista de longe, e até aplaudida.
No dia de hoje, acalento a certeza de não me sentir mal por estar envelhecendo, pois além de amar minha família, fazer o que gosto, escrever bastante e possuir amigos em número suficiente, continuo angariando experiência, conhecimento, sabedoria, aptidão para apreciar o cotidiano em seus pormenores, e o que é mais importante, sentir-me cada vez mais livre e muito feliz por mais esse aniversário. Parabéns para mim!
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