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Do fundo do coração
Muito jovem ainda, aprendi que de tempos em tempos Deus envia à terra, um de seus anjos mais amados; tais criaturas porém, não recebem do Pai Maior os instrumentos que lhe propiciam voar, tendo de conseguí-los sozinhos durante sua missão no ambiente dos humanos, para depois retornar para de onde vieram.
Trazendo em mente tal pensar, outro dia escrevi existir em nosso convívio, pessoas que por comportamento e atitudes de bondade, muito bem poderiam ser comparadas a anjos sem asas, esmerando-se em espalhar o bem e praticar atitudes de bondade.
Nutro a certeza que independente de pertencer ou não a tal casta, nada se compara à amplitude de ser mãe, um ente do tamanho do céu, somente menor que o próprio Deus.
Mãe é entidade inigualável, pois o abraço por ela oferecido nos faz alcançar o infinito, a cura do incurável, o amor indescritível... e, nas horas onde não temos mais força, ela se transforma em nosso porto seguro. Essa foi a experiência que vivi e não temo afirmar a história se repete com minhas filhas e netos.
Tudo passa rápido, mas naquele vinte de junho de 2020, perdi minha primeira grande paixão, e lá estávamos nós dois sozinhos em uma sala vazia, esperando o funcionário da funerária que haveria de prepará-la para a grande viagem.
Recordo, senti-me triste porém conformado, pois com semblante tranquilo e até certo ponto sorridente, mesmo naquele instante, ela me ensinava nada ser mais inútil do que a revolta, pois não temos nenhum poder sobre a morte, acontecimento irremediável. O inconformismo, a lamentação, a evocação reiterada do que se foi, somente prejudica em todos os sentidos.
Ainda na sala do necrotério, sentado em batente cimentado ali existente, acho que cochilei, e nesse estado de nostalgia, eu e minha mãe parecíamos manter diálogo maravilhoso, quando me contou um pouco do começo de sua vida como casada.
Em algumas oportunidades eu lhe questionava e ela singelamente respondia, já em outras, simplesmente falava sobre assuntos interessantes que a fizeram devanear no auge da sua juventude, pois possuía somente quinze anos de idade. Não consegui derramar uma gota de lagrimas, apesar da saudade ainda hoje atormentando minha alma.
Marlene Lanverly, minha mãe, continua sendo tudo para mim, verdadeiro anjo passeando por minhas noites, soprando sonhos lindos, vigiando o meu sono, me acariciando a pele na expectativa de minimizar o cansaço do dia, e então sempre que necessário, sussurrando palavras de coragem, para ajudar-me a maximizar energias e até conduzir-me os pensamentos.
Nesse segundo domingo de maio, ouso, com todas as forças, rogar a Deus, para abençoar as mães do mundo, principalmente Ana Lanverly, externando a extrema felicidade de sabê-la existir e a enorme gratidão e imenso orgulho de tê-la guardada no fundo do coração. E em relação a Marlene Lanverly, apesar de não mais encontrar-se ao meu lado fisicamente, a certeza de que sua lembrança me faz reviver a cada dia.
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