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Jesualdo o empreendedor
Residi na minha infância no bairro do Farol, onde também moravam inúmeras crianças, inclusive Jesualdo, que por ser um pouco mais velho, era líder de todos, principalmente quando se tratava de assuntos que ainda não conhecíamos na prática.
Hoje eu o definiria como um verdadeiro empreendedor, visto sua facilidade em executar sonhos de terceiros, mesmo que riscos houvessem, e ainda por cima ganhar algum trocado.
Naquela época, nossa turma dominava toda a região do Parque Gonçalves Ledo e adjacências. Sabíamos que algo difícil, desejado pelos “pivetes”, era só falar com o nosso Guru, e ele conseguia.
Certo dia, no início da noite, Jesualdo reuniu os meninos e apresentou uma proposta arrojada. Disse ele: - turma, estou com uma garota que pode tirar a roupa, para vocês olharem só de longe. Mas se quiserem, tem que me pagar dez cruzeiros cada um, por uma espiada de meia hora.
Todos ficaram loucos de vontade, mas devido à pouca idade, não possuíamos tal quantia. Sem dizer o motivo verdadeiro a nossos pais e avós, conseguimos o dinheiro tão desejado rapidamente.
No dia combinado, ele nos levou para as escadarias da Ladeira do Cortiço, por trás do Colégio Sacramento. Local tão iluminado quanto deserto. O acerto era pagarmos e depois posicionarmos dez degraus abaixo de onde a mocinha tiraria a roupa e rebolaria para nos enlouquecer, durante o tempo por ele marcado.
Foi realmente uma festa. Jesualdo apresentou a muitos a primeira mulher nua, que para surpresa de todos, era cozinheira da casa de um dos animados foliões presentes.
Nosso benemérito era um tipo de empreendedor que nos levava, mesmo sem bussola, a caminhar por lugares desconhecidos, e tomar decisões nunca antes ousadas.
Certo dia ele falou que tinha disponível três gurias, dispostas a ensinar candidatos a transar. Mas esse programa custaria vinte cruzeiros por pessoa, e só aceitaria participantes de quinze anos de idade. Uma tristeza para muitos.
Lembro bem que na noite de lua cheia, os grupos percorreram a Avenida Dom Antônio Brandão, os ansiosos meninos seguiam por uma calçada, enquanto o idealizador da aventura e as três moçoilas, moradoras da na região, caminhavam pelo lado oposto, para despistar.
Chegando ao seminário, defronte ao colégio Marista, entregaram o dinheiro ao facilitador, os seis pularam o muro do santo local, somente iluminado pelo clarão da lua, formaram os pares aleatoriamente, sem nem ao menos enxergar o rosto um do outro, se deitaram no chão, debaixo de pés de mangueiras, para formalizar o ato tão esperado.
Terminado o encontro, as garotas realizaram suas higienizações usando folhas caídas da mangueira e seguiram seus rumos, enquanto os heróis, voltaram correndo para contar as aventuras aos demais colegas que os esperavam na esquina da Rua Tomás Espindola.
Enquanto todos sonhavam em completar quinze anos, Jesualdo foi fazendo o seu pé de meia... é ou não é uma figura? Você decide...
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