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Alagoas dos prazeres
Nessa semana estou recebendo amigos velhos, desde os tempos da Escola Militar, cursamos juntos a Escola Preparatória de Cadetes e a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). Nesses seis anos de muito estudo e ralação, os colegas substituem a família. Somos irmãos há muitos anos. Nesses dias recordaremos as boas e as más horas que vivemos juntos, aventuras, as namoradas, as mulheres, os cursos durante a carreira. Alguns galgaram ao posto máximo de general outros não, porém, entre colega de turma não existe hierarquia, somos iguais, somos irmãos.
Para reverenciar esses amigos queridos conto um pouco da história de nossa terra, a querida Alagoas.
Fomos Pernambuco desde o descobrimento o Descobrimento do Brasil, desde as Capitanias Hereditárias (317 anos). O donatário da Capitania importou-se mais com as vilas de Olinda e Recife, deixou o sul da capitania ao Deus dará. Os franceses perceberam a região abandonada, construíram o Porto dos Franceses (onde hoje é a praia do Francês) e durante 60 anos danou-se a derrubar nossa Mata Atlântica extraindo e contrabandeando o valiosíssimo Pau Brasil para os países ricos da Europa. Os franceses foram os primeiros ladrões que aqui despontaram. Eles exploraram a mão de obra dos índios caetés em troca de espelhos e bugigangas. Não construíram uma casa, não interessavam colonizar, só roubaram nossas riquezas. No final do século XVI, Duarte Coelho, o donatário da Capitania de Pernambuco, se mancou, deu uma sesmaria a seu sobrinho para expulsar os franceses e iniciar a colonização do sul da Capitania de Pernambuco (Alagoas) criando três vilas: Porto Calvo, Santa Maria Madalena da Alagoa do Sul (hoje Marechal Deodoro) e Penedo. A partir do século XVII, a comarca de Alagoas desenvolveu sua economia e cultura. Porém, só foi emancipada em 1817 quando estava economicamente independente, quando havia formado o sentimento de pertencimento e teve uma desavença com o governo pernambucano. Surgiu a Província de Alagoas com capital a cidade de Alagoas (hoje Marechal Deodoro)
Alagoas é berço da República proclamada e consolidada pelos Marechais Deodoro e Floriano. Alagoas das letras e das artes de Graciliano Ramos, Jorge de Lima, Djavan, Aurélio Buarque, Cacá Diegues. Alagoas do esporte com a Marta e o Dida. Alagoas que sempre teve destaque político nacional para o bem ou para o mal. O Estado tem uma vigorosa história política. Um fato marcante e importante aconteceu em Alagoas. Ariano Suassuna costumava dizer que para se conhecer o Brasil verdadeiro tem de conhecer a história da República dos Palmares, onde escravos fujões negros se organizaram na Serra da Barriga no hoje município de União dos Palmares e viveram em comunidade organizada por mais de 100 anos. Tropas coloniais portuguesas depois de vários ataques conseguiu destruir o grande Quilombo liderado por Zumbi, o primeiro herói brasileiro. A República de Palmares durou quase todo o século XXVII, chegou a ter cerca de 30 mil habitantes, escravos negros fugidos, organizados. Palmares resistiu a vários ataques e representou durante cem anos um grande incômodo às autoridades portuguesas, foi a primeira sinalização de brasilidade oriunda da África.
Para finalizar essas poucas linhas, quero homenagear meu Estado transcrevendo um texto, uma poesia, do paraibano Noaldo Dantas que veio a serviço a Maceió, encantou-se com a cidade, adotou-a como sua pátria e ficou em Alagoas para sempre.
O DIA EM QUE DEUS CRIOU ALAGOAS – Noaldo Dantas.
Escrevi certa vez que Deus, além de brasileiro, era alagoano. Em verdade, não se cria um estado com tanta beleza, sem cumplicidade. Sou capaz de imaginar o dia da criação de Alagoas. Ô São Pedro, pegue o estoque de azul mais puro e coloque dentro das manhãs encarnadas de sol; faça do mar um espelho do céu polvilhado de jangadas brancas; que ao entardecer sangre o horizonte; que aquelas lagoas que estávamos guardando para uso particular, coloque-as neste paraíso. E tem mais, São Pedro: dê a seu estado um cheiro sensual de melaço e cubra os seus campos com o verde dos canaviais. As praias… Ora, as praias deverão ser fascinantemente belas, sob a vigilância de altivos e fiéis coqueirais. Faça piscinas naturais dentro do mar; coloque um povo hospitaleiro e bom; e que a terra seja fértil e a comida típica melhor que o nosso maná. Dê o nome de Alagoas e a capital, pela ciganice e beleza de suas noites, deverá chamar-se Maceió, e a padroeira, Nossa Senhora dos Prazeres.
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