De há muito, o cientista maturava em seu subconsciente definição de algoritmos que viesse solucionar suas pesquisas. O artista buscava, nas colinas de Carrara, inspiração necessária para conceber mais uma obra de arte, enquanto o artesão tentava retirar dos reflexos mágicos, vislumbrados nas águas plácidas da Lagoa Mundaú, o “estalo” final, para materializar mais uma escultura, enquanto o gorjeio dos pássaros oferecia ao compositor condições para que elaborasse a partitura de uma nova canção.

Naquele instante, como que ungidos por um toque divino, uma centelha se acendeu em seus corações com respostas para seus anseios. O princípio matemático, a escultura, a pintura e a majestosa opera, foram facilmente burilados. A arte de escrever assemelha-se a qualquer outra atividade desenvolvida pelo ser racional. É natural, é fácil, é divina, uma vez que, quem a pratica, consegue materializar sonhos, anseios, idéias e pensamentos, que, com perspicácia e um certo tempero criativo, prende a atenção de seus semelhantes.

Da mesma forma que as grandes jogadas, praticadas pelo rei do futebol, foram urdidas na simplicidade, mas, nem por isso, deixaram de ficar indelevelmente marcadas na história do esporte, os grandes textos foram elaborados sem a preocupação maior de agradar a possíveis leitores, que, contudo, não deixaram de deliciar-se com o conteúdo neles embutido.

O homem pode dominar as ciências exatas, as regras ortográficas, a arte de esculpir, de pintar ou de interpretar melodias, mas, nem por isso, estará apto a criar sucessos.

Em algumas oportunidades, as idéias afloram à mente, mas, algo maior que a vontade humana impede que as mesmas se concatenem, propiciando a “peça” que tanto desejava obter. Em outras situações, tudo ocorre muito facilmente, como que a reboque de um facho de luz, vindo do fundo do coração, transformando as palavras apostas em pedaço de papel, ou até em um guardanapo, em textos realistas, históricos, investigativos, ferinos ou poéticos, em questão de minutos.

Da mesma forma que um bom vinho tem que ser maturado por algum tempo, para oferecer aos degustadores o prazer que nele tanto esperam encontrar, as ideias que serão transformadas em texto, devem ser forjadas no cérebro de quem as conceberá. As etapas jamais podem ser forçadas. Escrever, bem, pode ser comparado a uma necessidade fisiológica. Não adianta exigir que alguém as desenvolva, sem que haja o desejo, da mesma forma que é difícil segurar, quando a vontade chega.

Na maioria das vezes, os que escrevem são profissionais de diferentes áreas técnicas, que encontram em fatos do cotidiano, em uma pétala de rosa, ou, até mesmo, na cabeça de um prego, a inspiração necessária para fazer aflorar o potencial que traz adormecido, na aurora de seu entendimento.

Feliz, é quem consegue vislumbrar poesia nas asas de um gafanhoto. Enxergar beleza, nas taperas do sertão nordestino, na alma de um semelhante, ou buscar inspiração nas cores, para traduzir o amor. Enfim, tentar, através da escrita, solidificar o carinho, não na expectativa de que seus “pensamentos” poderão ser lidos, mas por respeito a quem poderá vir a lê-los.