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A patetocracia contra-ataca
O jornalista Lucas Mendes conta-nos que, no comecinho dos anos 90, durante o governo do “jagunço yuppie”, Fernando Collor de Mello, era comum vermos jornalistas brasileiros, em tom de provocação, cantarolar e assoviar a música da campanha do Lula quando o presidente – que dizia ter “aquilo” muito roxo – aparecia numa coletiva de imprensa.
Ele, naturalmente, ficava “PC da vida”, mas, nem por isso mandava calar em definitivo os jornalistas, ou algo “democraticamente” similar a isso.
Porém, infelizmente, nos dias atuais, os tempos são outros, os ares também, tendo em vista que paira sobre nós a batuta da patetocracia. Sem dúvida alguma, hoje vivemos sob a sua égide.
Quanto ao termo patetocracia, infelizmente, não foi inventado por esse que vos escrevinha. Não. Ele foi cunhado pelo escritor José Carlos de Oliveira na década de 60 em sua coluna no JB e, para o desgosto geral da nação, continua mais atual do que nunca.
Sim caríssimos! Tem patetocracia de direita, de esquerda, de centro, de tudo que é lado. Não pra onde fugir.
Porém, é importante destacar que a patetocracia não é tão só e simplesmente a (des)governança exercida por um punhado de patetas que, como é do conhecimento de todos, abundam nos pagos da nossa amada Bruzundanga, tão bem descrita pela pena de Lima Barreto. Nada disso, cara pálida, nada disso! É bem pior.
Numa patetocracia, todo santo dia, aparece um pateta, engravatado ou não, cagando regra e defecando ordens para proteger e salvaguardar a moral, os bons costumes e, é claro, para defender aquilo que ele chama de “Estado Democrático de Direito”.
No começo, todos os patetocratas se apresentam melosos, com aquela cara de manga chupada para agradar a gregos e troiano, porém, não demora muito para que eles mostrem a que vieram, revelando sua face sombria e, com o tempo, eles acabam desvelando diante de todos a sua alma grotesca.
E reparem que, em Bruzundanga, não é pequeno o número de pessoas que conseguem, na mesma frase, dizer que são contra a ditadura e, ao mesmo tempo, querem que o Estado proíba o uso de determinadas palavras. Dizem, na mesma oração, que amam a democracia, com ou sem camisinha, mas consideram necessário que determinadas pessoas, por se oporem à patetocracia, sejam caladas para todo sempre, assim seja, amém.
Por isso, não é à toa, nem por acaso, que os patetocratas promovem campanhas sórdidas de difamação, destroem carreiras, apoiam desavergonhadamente o cerceamento da liberdade de expressão e assim por diante, pois, para essas almas ideologicamente apatetadas, tudo vale a pena, tendo em vista que em suas almas tudo se apequena. Tudo mesmo, principalmente o discernimento, um dos alicerces da inteligência.
Talvez, posso estar enganado, mas possivelmente, uma imagem que bem representa essa estrovenga – que se diz democrática – seja a da jornalista Miriam Leitão se derretendo toda, em rede nacional, ao jogar confetes e serpentinas para os primeiros quarenta e cinco dias do governo de “Loola III”, agindo de modo similar à sabujice da gurizada do MBL frente aos primeiros dias da administração do ex-prefeito de São Paulo, João Agripino Doriana, o Juninho Dória.
E verdade seja dita: ninguém consegue sair da patetocracia para a democracia sem se libertar das amarras da astutocracia de pangaré.
Sim, eu sei, acabei divagando um pouco. Perdoem-me. Voltemos ao ponto.
Não estou dizendo, ao floretear com as palavras, que as instituições não são importantes. Muito pelo contrário! Considero-as imprescindíveis, o que é bem diferente de tratá-las como um fim em si mesmas. Não apenas isso. Reconhecer a importância das instituições do tal Estado Democrático de Direito não é a mesma coisa que incensar e idolatrar as figuras desprezíveis que, porventura, possam estar à frente delas.
Infelizmente, essa não é a regra que rege os atos ordinários e extraordinários em Bruzundanga. Nessas terras, as instituições e seus ocupantes são tratados como um fim em si – não como um meio – e, como bem nos lembra o historiador britânico Arnold Toynbee, em sua obra “Estudio de la Historia – vol. IV”, todas as vezes em que as instituições são transformadas em ídolos, é porque aquilo que elas supostamente representam, já morreu, ou está em vias de deixar de existir.
Quando isso ocorre, invariavelmente, temos o alvorecer de uma tirania, tão obtusa quando abusada, que com seus chiliques totalitários, procura salvaguardar a integridade do ídolo de pés de barro e, deste modo, procura garantir a manutenção da ordem que se edificou sobre o mesmo.
E o pior é que muita, muita gente interessada na manutenção da patetocracia, que vilipendia muitos e persegue outros tantos, para que alguns poucos possam se locupletar em nome de todos.
Enfim, como diria o próprio Carlinhos de Oliveira, está todo mundo ficando louco e ninguém toma providência alguma e, talvez, ninguém tome uma atitude, porque provavelmente não há ninguém que esteja em condição de fazê-lo.
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