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Os sonhos de Nélida

03/01/2023
Os sonhos de Nélida

Foi uma amizade de muitos anos. É grande, pois, a dor sentida pela perda da escritora Nélida Piñon, que faleceu em Portugal, aos 85 anos de vida.

Tive o privilégio de ser o seu vice-presidente, na ABL, em 1997. Quantas ideias criativas e generosas, na primeira gestão de uma mulher à frente da Casa de Machado de Assis. Lembro que as bem sucedidas visitas guiadas nasceram da sua imaginação. E muitas outras profícuas iniciativas.

  Autora consagrada de “A República dos Sonhos”, Nélida escreveu mais de 20 livros, todos com bela repercussão inclusive internacional. Doou ao seu amado Instituto Cervantes mais de 7 mil livros e documentos. Hoje, enriquece  um belíssimo acervo que fica no bairro de Botafogo.

 Ela foi uma intransigente defensora dos direitos humanos, especialmente das mulheres e dos negros. Escreveu sistematicamente sobre isso.

E  amou seus cachorrinhos, o primeiro dos quais foi o famoso pinscher Gravetinho Piñon e, depois, vieram a pinscher  Susy e a chihuahua Pilara Piñon, com os quais, inclusive, viajou para diversos países. Sua cultura era um poderoso misto de galego e português.

Fomos amigos por mais de 30 anos. Ela era formada em jornalismo pela PUC-Rio, com obras espalhadas por cerca de 30 países. Carioca, teve também um grande apreço pela sua descendência espanhola.  Costumava se pintar antes de se apresentar e vestir sua melhor roupa. Era um ritual que sempre respeitava, com toda solenidade. Foi uma escritora de vários estilos, comodemonstrou no seu clássico “Vozes do deserto”. Sua paixão pela literatura veio desde cedo. E, assim,  ganhou o Prêmio Príncipe de Astúrias, além de dois Prêmios Jabuti.

 Pode-se registrar na sua rica biografia uma amizade relevante com famosos  escritores como Gabriel Garcia Marques e Mário Vargas Llosa, com os quais costumava sempre se corresponder. Dizia que “os livros nasceram pra viajar”. E ela ia com eles, espalhando suas ideias pelo mundo.

A  perda de Nélida Piñon não é sentida apenas pela ABL, mas pelo país de um modo geral, pois ela foi uma figura muito querida. Sempre demonstrou solidariedade com os que sofrem, especialmente em nosso país.