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Dom Santo
Lembrando a condição da mulher na época imperial, vemos que diversas obras apenas enfocam a supremacia determinada por uma sociedade de traço patriarcal. De fato, grande parte das integrantes do sexo feminino estavam subordinadas ao mando de seus pais e maridos. Muitos documentos descreviam episódios de agressão, clausura e perseguição. No entanto, devemos também revelar a participação destas de outras formas que escapam da lógica da dominação.
Assim torna-se fundamental o conhecimento do romance escrito pelo Bacharel Arnaldo Paiva Filho, o sócio efetivo da Academia Alagoana de Letras, que gira em torno da personagem Dona Santa, bisavó do autor.
Ao perder a mãe Francisca Hermínia, aos 8 anos de idade, vítima da pandemia do cólera morbo, que assolou o estado alagoano no idos de 1855, Dona Santa na expectativa de não ter o terrível fim de sua genitora, foi enviada pelo pai para estudar em Petrópolis no Rio de Janeiro, como aluna do Colégio Cramer, coordenado por freiras, então recém inaugurado por Dom Pedro II, onde aprendeu a falar fluentemente vários idiomas, corte e costura, a apreciar música clássica e tocar piano com maestria.
Após 5 anos de internato, retornou ao lar trazendo bilhete onde estava escrito: “Sua filha foi educada para ser esposa, mãe e avó”
Submissa a vontade do genitor, estava prestes a completar duas décadas de vida, quando este lhe anunciou um noivo, por nome de Barnabé, o qual começou a namorar em uma festa acontecida nos mesmos salões do Engenho Mundaú, onde anos antes, coincidentemente, seus pais se conheceram.
Após breve noivado casaram e apesar de Dona Santa pertencer à oligarquia rural, quase nada conhecia do ramo, sendo uma excepcional esposa e administradora do lar.
Lendo Dona Santa, conhecerão a história de uma mulher que viúva aos 28 anos, envolta por uma sociedade machista, monarquista e escravocrata, onde as relações sociais eram cercadas por injustiças e preconceitos, teve pela primeira vez que enfrentar a realidade da vida e cuidar não somente de três filhos de pouca idade, como também gerenciar profícuo engenho de cana de açúcar, e ela venceu…
Houve uma época em que o versinho da moda em Alagoas era o seguinte: “na Satuba, quem governa é seu Mendonça. Na Utinga quem governa é o seu Leão. Ah! Seu Abas, Ah! Seu Hermes, ah! Seu Ulf! Dona Santa é quem governa o Riachão.”
Falecida em junho de 1929, aos 83 anos de idade, Dona Santa por tudo o que realizou, estabeleceu consistente legado que a história jamais apagará, por ela sempre haver agido como verdadeira guerreira, não somente repleta de força e sensibilidade, mas acima de tudo sendo uma mulher de verdade, aproveitando a vida a seu modo e sendo feliz.
O livro escrito por Arnaldo Paiva Filho, que por sua índole pura, bem poderia ser chamado de Dom Santo, direciona-se ao público de qualquer idade, que queira apreciar a boa literatura, caracterizando-se por ser possuidora do poder de nos tirar da realidade e mergulhar na história e, não distante, fazer-nos refletir e aguçar nossa criticidade.
Parabéns Dom Santo, Parabéns Arnaldo Paiva Filho…
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