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As copas que assisti
Sou um curtidor, um apaixonado por Copa do Mundo. Amo essa época de expectativas, de especulações, enfim, dos jogos do Brasil. Não perco um jogo desde criança, seja ouvindo rádio ou assistindo televisão. Jamais compareci a uma Copa ao vivo, no estádio. Tenho lembranças, muitas. Aqui rabisco o que vem rápido à memória, sem muito esforço, histórias das Copas que assisti.
COPA 1950 no Brasil - Menino, 10 anos, eu morava na Avenida da Paz em Maceió. Fiquei fascinado com as tabelas dos jogos que me chegavam às mãos. Acompanhei pelo rádio os jogos do Brasil. Depois das fases iniciais, sobraram quatro times para o quadrangular final. O Brasil bateu de 7 x 1 na Suécia; 6 x 1 na Espanha, ouvindo o Maracanã em peso cantar: “Eu fui às touradas em Madri… E quase não volto mais aqui… Pra ver Peri beijar Ceci…” Finalmente o jogo Brasil x Uruguai, bastava o empate. O Brasil fez o primeiro gol, toda a nação comemorava, eis que de repente apareceu um líder dentro de campo, Obdúlio Varela comandou a virada. Final: Uruguai campeão 2 x 1. Chorei muito, naquela noite não consegui dormir, foi uma punhalada em um menino de 10 anos. O Brasil, 72 anos depois, ainda chora 1950.
COPA 1954 na Suíça - Jovem estudioso, adolescente de 14 anos, toda tarde depois do colégio, recolhia-me a uma puxada no quintal de minha casa. Aquele canto era meu mundo, minhas fantasias. Guardava ou colava na parede recortes de jornais e da Revista do Esporte e de mulheres seminuas. Torcedor do Fluminense, eu acompanhava o time que deu três grandes jogadores para seleção de 1954, Castilho (goleiro), Veludo (goleiro) e Pinheiro. Os jornais traziam reportagens sobre o grande futebol da seleção húngara. Durante a preparação para Copa de 1954, a Hungria massacrava os adversários de 7 x 1 aos 12 x 0. Eram Puskas e Kocsis os donos do mundo. O Brasil teve o azar de pegar a Hungria nas quartas de final, foi derrotado por 4 x 2, voltou para casa. O jogo de decisão foi Hungria x Alemanha. Deu-se o Milagre de Berna. Depois de estar perdendo por 2 x 0, a Alemanha virou, foi a campeã (a Hungria havia ganhado da mesma Alemanha por 8 x3). Recortei da Revista do Esporte uma foto do time alemão, os onze jogadores em pé ao lado do outro, preguei na parede.
COPA 1958 na Suécia – Nesse ano eu cursava a Escola Preparatória de Cadetes do Exército em Fortaleza, um jovem bonito e charmoso em meus 18 anos. Primeiro jogo, Brasil x Áustria, bebericamos cuba libre na calçada de um amigo ouvindo o rádio gritei, vibrei nos gols do Brasil: 3 x 0. Com a alegria de jovem cadete dancei, bebi, me esbaldei, comemorei a grande vitória no Clube Maguary de Fortaleza. Durante a segunda partida Brasil x Inglaterra meu pelotão fazia exercícios militares em marcha pelas ruas da cidade, ouvi o jogo num rádio portátil dentro da mochila, deu empate 0 x 0. No jogo Brasil x União Soviética desbancamos o futebol científico alardeado pelos comunistas, eles eram favoritos da Copa de 1958. Foi quando estrearam juntos: Garrincha e Pelé no lugar de Dida e Joel. Deu 2 x 0 com uma linda e estonteante exibição de futebol. Desse jogo em diante Pelé reinou: 1 x 0 no País de Gales, 5 x 2 na França e finalmente 5 x 2 na Suécia. A dona da casa aplaudiu em pé. Pela primeira vez Brasil campeão do mundo. Nelson Rodrigues escrevia: “Acabou-se nosso complexo de vira-lata.”
COPA 1962 no Chile – Eu morava na Bahia, era tenente do Exército formado recente na Academia Militar das Agulhas Negras, 22 anos, acompanhei as vitórias e os dramas do Brasil num rádio do quartel do 19° Batalhão de Caçadores em Salvador. Após o jogo final foi uma só comemoração pelas ruas estreitas da cidade com o amigo Ângelo Roberto, o maior pintor bico de pena da Bahia. Pela manhã da segunda-feira, durante a formatura matinal do Batalhão, ainda ouvia os gritos e os cantos de Bi Campeão. Foi usado pela primeira vez o vídeo – tape. Na noite após os jogos, mais outra rodada de cerveja assistindo o jogo pela televisão.
COPA 1966 na Inglaterra - Nessa época, 26 anos, eu, tenente do Exército Brasileiro comandava um Pelotão de Fronteiras da Amazônia, fronteira do Brasil de Roraima com Venezuela e Guiana Inglesa. Onde morei dois anos conhecendo de perto nossa exuberante e riquíssima Amazônia, um período importante e feliz de minha vida, mesmo cheio de problemas políticos e existenciais. O Brasil era favorito, com Garrincha e Pelé a seleção era considerada imbatível. Os cartolas começaram a perder a copa fora do campo. Para valorizar os jogadores brasileiros, em vez de 22, foram convocados 44 jogadores. Uma esculhambação dos dirigentes. Resultado, sem organização, o Brasil não passou da fase classificatória. Ganhou a primeira 3 x 1 da Bulgária, perdeu 3 x 1 da Hungria e a última deu Portugal 3 x 1. Classificado Portugal, Euzébio era novo rei da bola. Torci por Portugal, mas deu Inglaterra na final. CONTINUA…
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