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O melhor produto do Brasil
Desde o nascimento até a morte, o homem representa os mais variados papéiis no enorme palco da vida, onde como protagonista, coadjuvante ou mero espectador, dará o seu recado segundo a realidade de cada momento.
Lembro na infância de haver aprendido com meus genitores, conjunto de formalidades, palavras e atos que os cidadãos adotavam entre si para demonstrar reverência, consideração, boas maneiras, cortesia e polidez. Então, visivelmente, o mútuo respeito entre convivas obedecia a um código ético não oficial.
Fossem trabalhadores do mercado informal, invariavelmente eram tratados pelos termos “esse menino” ou “essa menina”, como identificação carinhosa de juventude, mas também reconhecimento de individualidade e vitalidade.
Os mais velhos, mencionados de senhor e senhora, aqueles possuidores do diploma de nível superior, sempre reconhecidos e citados como doutor. Aos pais, avós e tios se tomava a benção regularmente, muitas vezes lhes beijando uma das mãos.
Nos últimos tempos, o stress do cotidiano fez com que os seres humanos, em algumas ocasiões, esquecessem tais conceitos, e seus interesses pessoais, infectados pela intolerância, trata os que pensam diferente, não como adversários mas sim inimigos.
O que era visto nos estádios de futebol entre alguns integrantes de torcidas, no pleito eleitoral findo, tomou conta das ruas do Brasil, fazendo com que a civilidade praticada por seus filhos, retroagisse aos tempos de guerra onde irmãos chegaram a se trucidar na expectativa de defender ideias, alguma delas tendenciosas, de líderes muitas vezes de barro que visavam exclusivamente suas vantagens pessoais.
O filósofo imperador romano Marco Aurélio, em suas “Meditações”, assim escreveu: “dentro de cada um de nós está a fonte do bem, que deve jorrar continuamente”. Entendo que é bem, fazer justiça a todos. A injustiça perverte quem a pratica.
Foi injusto quem de forma grosseira deixou de aceitar a opinião do próximo por divergir da mesma, criou inverdades divulgando-as, retirou o direito de ir vir das pessoas bloqueando vias, agrediu semelhantes buscando despejar seu recalque no sucesso alheio, não praticou o bom combate envenenado por opiniões de terceiros que unicamente desejam perpetuar-se no poder, esqueceu ser a vida comparada a um círculo, a figura geométrica perfeita, sem início e sem fim, começa com o nascimento, contudo o final é desconhecido.
Encerrada a eleição, os vitoriosos representam em linguagem matemática, a tese de um teorema complicado, e quando empossados, passam a ser espelhos e portanto suscetíveis a pedradas em formas de hipóteses, vindas de antigos apoiadores que em breve espaço de tempo podem transformar-se em verdades a lhes torpedear, e então como novas lideranças buscam fazer prevalecer seus princípios, outra vez negligenciando a polidez.
Ainda lembrando o asqueroso clima de agressividade vivido recentemente no pleito eleitoral, invoco o celebrado literato potiguar Câmara Cascudo que em um dos seus escritos assim registrou: “Apesar de tudo, o melhor produto do Brasil, ainda é o brasileiro.”
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