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O bom pedreiro
O fato se deu há algum tempo. Eu trabalhava na Construtora Mundaú do Dr. Odilon de Souza Leão, estávamos construindo um hotel na praia de Ponta Verde. Todo sábado, depois de um giro nas obras, pagamento de funcionário, nos juntávamos a bons amigos para uma cerveja de início de fim-de-semana. Certa vez estávamos numa mesa do Bar do Alípio na Lagoa com amigos, a bebida e comida rolando, quando apareceu o Mestre de Obra apavorado. Acontecera um acidente de trabalho grave. Um pedreiro, fazendo trabalho extra, caiu do quinto andar, o seu corpo durante a queda se chocou com andaimes, caixotes de papelão e um monte de areia, o que minimizou o impacto da queda. O pedreiro estava no Pronto Socorro em observação. Como eu era engenheiro da obra, imediatamente me dirigi ao Hospital.
Levaram-me ao acidentado na enfermaria. Pedro, excelente pedreiro, deitado numa cama dormia sedado. O médico informou que, milagrosamente ele estava fora de perigo, porém havia um problema, uma sequela da queda. Pedro ao cair no chão bateu com a cabeça, o que causou priapismo. Ignorante, perguntei o que vinha a ser priaprismo. O médico explicou ser uma ereção contínua e persistente do pênis, sem necessariamente sentir desejo sexual. Desde que chegou ao hospital não houve possibilidade de murchar. Já havia colocado água fria, álcool, éter e o pênis continuava indefectivelmente duro.
Depois de prestar assistência burocráticas, retornei imediatamente ao Bar do Alípio informando ao chefe e amigos o ocorrido inusitado e as providências tomadas. O assunto do restante da tarde foi o priapismo. Teve um coroa com ideia de se jogar lá do quinto andar na tentativa de revigorar seus apetrechos.
Na segunda-feira um jornal deu a notícia: “Pedreiro cai do quinto andar e se salvou milagrosamente graças a um monte de areia, entretanto, causou uma sequela pouco comum, o priaprismo”. O jornalista narrou com detalhes o significado, e que nada havia baixado nas últimas 48 horas. O médico previu no mínimo trinta dias de cama e aconselhou ficar em algum hospital particular. Assim Pedro foi transferido para uma Casa de Saúde. A partir desse dia, não houve mais sossego para Pedro. Foi visitado por curiosos, por pessoas interessadas em estudar o fenômeno. Uma turma de estudantes de medicina acompanhou o caso diariamente. Algumas meninas foram de tamanha dedicação que davam plantão à noite. Havia uma espontânea compaixão por aquele doente. Algumas visitas voluntárias, com sacrifício, até dormiam como acompanhante, numa mostra de solidariedade humana.
Os dias passaram. Pedro foi se recuperando dos ossos quebrados, mas o priapismo continuava desafiando a medicina. O “pênis-erectus” permanecia.
Contrataram algumas meninas da Boate Areia Branca do famoso Mossoró. Várias tentativas aconteceram e nada de amolecer. Pedro já se sentia incomodado, mesmo com tanta gente caritativa tentando baixar seu desconforto.
Depois de 17 dias de ininterrupta rijeza, alguém se lembrou de Dolores, respeitada mãe-de-santo, quando jovem trabalhou nas boates de Jaraguá. Ficou muito conhecida dos boêmios pelos seus dotes e serviços completos. Sábia e mestra sem nunca ter lido o Kama-Sutra, fazia um “frango-assado” como ninguém, era mestra. Escondido dos médicos, amigos levaram Dolores. Ela trancou-se com Pedro no apartamento, levou ramos e óleos. Quarenta minutos se passaram quando se ouviu um barulho, baque de um corpo no chão. Os amigos bateram à porta, gritando afobados.
Dolores Sierra abriu a porta e saiu toda faceira, como uma rainha, sorria maravilhosamente, cara desavergonhada. Dentro do quarto, Pedro deitado no chão, olhando a parte afetada, comemorava: “Consegui, consegui. Viva Dolores!”
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