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Meu primo Cuca
Beth, Sofia e Gina eram três jovens bonitas, seus nomes foram homenagens às artistas de cinema: Elizabeth Taylor, Sofia Loren e Gina Lolobrígida. As moças não perdiam em beleza para as três celebridades da época. Sua família morava em Jaraguá perto da Igreja Nossa Senhora Mãe do Povo. Quando elas, sempre juntas, de biquíni, desciam à praia da Avenida da Paz, nós, mancebos maloqueiros, interrompíamos o futebol, a bola parava para apreciar a entrada triunfal daquelas magníficas moças, fonte de inspiração dos tarados, que dentro d’água se possuíam na sua intenção, como diria Martinho da Vila em seu samba.
Acontece que elas tinham um irmão mais velho; alto, forte, sua musculatura mantida por contínuos exercícios contrastava com o cérebro do rapaz, do tamanho de uma ervilha. Tucão era conhecido por sua valentia, aliás, por suas brigas. Era o maior arruaceiro do bairro e da zona das putas em Jaraguá. Certa vez brigou com quatro policiais, foi preso, espancado. Passou a detestar qualquer tipo de polícia. Contudo, Tucão tinha um sentimento nobre: o afeto pelas irmãs. De um ciúme doentio, partia para briga quando o chamavam de cunhado ou qualquer comentário que suas irmãs eram “boas”.
Certa vez, meu querido e saudoso primo, Alberto Lima – Cuca se encantou com a mais nova das irmãs e engrenou um namoro com Gina. Namoro casto, como era naquela época, mão na mão, em vez em quando um beijinho. Sempre com a fiscalização ostensiva de Tucão.
Certa noite, depois do namoro comportado com Gina, Cuca ao passar dirigindo devagar pelo Beco Vitória, avistou Julieta, jovem destrambelhada, conhecida como “sabãozeira”, isto é, gostava de uma boa sacanagem, sorriu descaradamente para Cuca que prontamente parou o jipe e ela sentou-se a seu lado, Foram para numa sessão de amor enlevado pela brisa marinha por trás do Posto de Salvamento da praia do Sobral.
Cuca estava feliz, toda noite namorava de beijinhos com sua amada Gina, depois pegava Julieta no jipe faziam amor sob o carinho da brisa.
Certa noite Beth, a cunhada, percebeu quando Cuca apanhou Julieta no jipe para mais uma sessão de exercícios libidinosos. Na noite seguinte quando ele encostou à casa de Gina, ela estava uma fera, namoro acabado, não admitia ser trocada por uma vagabunda. Nesse momento apareceu Tucão arregaçando as mangas da camisa, cara trancada, falando alto que irmã dele não levava chifre. Cuca na hora tomou um susto, brigar com Tucão, era apanhar na certa, levaria uma surra histórica. Com presença de espírito, ele convidou Tucão para tomar uma bebida e conversar. Beber de graça era tentação irresistível para o arruaceiro. Foram para um bar por perto, serviram cerveja, pinga e tira-gosto. Cuca explicou que Julieta era só para sacanagem, ele gostava mesmo de Gina, namoro para casamento e coisa e tal, no campo da astúcia Cuca ganhava tranquilo do mastodonte.
Aconteceu uma noitada de muita bebida, passaram por bares diferentes. Tucão, aonde chegava, provocava alguém, a sorte é que os provocados tiravam o corpo fora.
Noite adentro e Tucão na maior amizade com Cuca, chamando-o de cunhado. Em certo momento ele inventou de ir à zona das quengas. Cuca esperando que a noitada terminasse, acabou concordando. Partiram rumo à Jaraguá. Ao passar no final da Avenida da Paz, de repente Tucão, bêbado, pediu para parar o jipe e saltou, dirigiu-se a dois policiais, uma dupla de Cosme e Damião que fazia ronda. Cuca não acreditou quando assistiu Tucão se aproximar dos soldados e desfechar um murro em cada soldado, deixando-os no chão, ainda deu ponta pé, recolheu dois capacetes e correu para o jipe. Cuca assustado deu partida e por insistência parou e subiram à Boate Tabariz. Sentados à mesa Tucão colocou o capacete em sua cabeça e colocou o outro na cabeça de Cuca. Pediram cachaça e duas raparigas. Depois da primeira dose Cuca conseguiu tirar o capacete, colocou-o embaixo na mesa, estava apreensivo com aquela loucura do “cunhado”.
Certa hora Cuca foi ao sanitário. Ao retornar percebeu a confusão. Oito policiais xingando e batendo em Tucão, seguro por trás. Cuca saiu do banheiro de fininho, sem ser percebido, desceu a escada íngreme de um salto. Teve sorte, não havia policial no jipe. Deu a partida e chegou em sua casa na Avenida da Paz, aliviado.
No dia seguinte, soube do acontecido por amigos. Tucão brigou com os oitos policiais, levou muita porrada, amarraram o arruaceiro, levaram preso para 2ª Delegacia, onde lhe deram uma surra inesquecível.
Meu saudoso primo Cuca esqueceu a bela Gina, por muito tempo ficou sem passar perto da casa da jovem nos arredores da Igreja Nossa Senhora Mãe do Povo. Evitou pelo resto da vida encontrar-se com Tucão, seu cunhado. Porém, lhe sobrou a fogosa, serelepe, Julieta, continuaram refrescando-se pela brisa do mar por trás do Posto de Salvamento na praia do Sobral.
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