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A paixão incalculável de Vinícius

26/09/2022
A paixão incalculável de Vinícius

Os fatos importantes do cotidiano são geralmente difíceis de serem relatados. Senti-me assim ante as pinturas do teto da Capela Sistina, lá em Roma, onde o fantástico Michelangelo, antecipou ao mundo como lhe caberia, eternamente, o epíteto de gênio.

À medida que o tempo passa, confronto-me com idêntico dilema ao escutar Chopin, ler Jorge Amado, lembrar Pelé, estudar Nise da Silveira ou admirar Leonardo da Vinci, não encontro palavras para discorrer sobre tais personalidades.

Afirma-se ser a coragem o sentir medo, e mesmo assim, realizar. Há dias tive oportunidade de ler mais um vez o livro intitulado “Paixão Incalculável, Memórias de um Engenheiro”, de autoria de Vinicius Maia Nobre, alagoano de Maceió, onde frequentou o curso secundário, depois alçando o título de engenheiro civil em Recife justo no ano em que nasci.

A partir de então, pontificou, quer no serviço público estadual, dirigindo entidades de classe, clubes de serviço e também, como docente da UFAL. Dono de inesgotável capacidade criadora, por sua genialidade transformou-se em paradigma para alunos, colegas de classe e trabalho e principalmente para sua família, tendo sempre a seu lado, como esteio maior, como ele próprio descreve: “Zélia, minha esposa, cujo apoio se tornou indispensável para as jornadas palmilhadas”.

Como poeta que é, professor Vinicius, em seu trabalho, enfatiza “a beleza do céu azul brilhante de sol”, quando descreve a imponência do Rio Ipanema, em Batalha, com sua ponte em um vão de 240 metros, até 1979 a maior do sistema viário de Alagoas, cujo projeto lhe pertence.

Referindo-se ao Riacho Salgadinho, sob o título o “sujo e o mal lavado”, simula uma conversa entre os dois primeiros presidentes do Brasil, quando Deodoro da Fonseca teria dito: “Ô Floriano, eu já não estava aguentando mais o mau cheiro deste Riacho! Você está mais afastado dele e é de “ferro”, quero saber como vai se comportar depois da transposição das línguas sujas lá da Pajuçara. A resposta viria a seguir: “Deodoro, você bem sabe como é este pessoal daqui, liga-se nas galerias da prefeitura para não “dever” à concessionária e todos vão pagar o pato”.

Em Paixão Incalculável, o amigo Vinicius ilustra a história com verdades que ajudou a escrever em nosso Estado, como diversas obras de infraestrutura; tece comentários a respeito dos inúmeros governos aos quais prestou serviços, sempre como protagonista; demonstra seu sentimento de afetividade ao enaltecer colegas de profissão, para finalmente, relatar as obras de seus sonhos, muitas construídas com esforço pessoal, como o Trapichão, outras ainda dormitando no papel, qual a intervenção no complexo lagunar, oferecendo tratamento às nascentes, utilizando os desníveis dos rios Mundaú e Manguaba, para construção de sucessivas barragens, quando, aproveitando seus potenciais, geraria energia.

Professor Vinicius, grande engenheiro, aplaudido escritor, membro da Academia Alagoana de Letras, respeitado por gerações, verdadeiro Midas motivacional.