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O gramado da Pajuçara
À Vânia Papini
A Organização Mundial da Saúde requer o parâmetro mínimo de 12 (doze) m² de área verde por habitante para uma cidade ser considerada de boa qualidade de vida ambiental. No Brasil existem cidades com 50 (cinquenta) m² de área verde por habitante, como Curitiba. João Pessoa é recordista nacional com seus 60 (sessenta) m² por habitante.
Maceió carece de muitas praças, parques e jardins; a nossa bela cidade não chega aos 6 (seis) m² de área verde por habitante. Se não fosse a brisa marinha, nossa cidade seria um inferno quente e abafado. Os governantes pensam ser donos da cidade, e criminosamente doaram áreas públicas, áreas verdes, para entidades e até para particulares.
Lembro rápido alguns crimes ambientais como exemplo: A praça Napoleão Goulart foi doada ao Clube Fênix, o clube mais rico do Estado; a praça 13 de Maio, local de encontro da comunidade do Poço, marco de varias gerações, foi doada ao SESC para construir uma sede; no loteamento da Avenida João Davino uma enorme área verde, onde seria uma praça, foi doada ao Clube dos Sargentos. Violências urbanas cometidas, irreparáveis. Maceió é o único lugar do mundo onde existe uma kafkaniana “Associação dos Invasores de Área Verde”, no Conjunto Benedito Bentes.
É preciso a Prefeitura e a população aumentar essas áreas verdes, plantando árvores, cuidando das praças e jardins.
Na minha juventude havia o bucólico e saudoso Gramado da Pajuçara, uma área verde destinada à construção de uma praça. Era uma belíssima e gostosa área gramada, arborizada, onde nós jovens dos anos 60/70 jogávamos voleibol, nos reuníamos. Foi ponto de encontro das paqueras, dos namoros que ainda hoje persistem. Grandes amores começaram no Gramado da Pajuçara. Como era divertido passar as tardes jogando voleibol naquele tapete verde feito de grama macia, onde nas noites de Lua deitávamos olhando para o céu, cantávamos ao som de um violão, curtindo serenata.
Nas vésperas do carnaval se traçavam os rumos dos blocos, as fantasias do Baile de Máscaras e planejávamos os “assaltos dançantes” nas casas amigas. Era ponto de encontro dos que moravam fora, passavam férias. A partir do Gramado saíamos pegando jangada rumo às piscinas naturais; às vezes entrávamos no mar em noite de lua.
Outro dia tomando uma cervejinha numa barraca encontrei uma jovem daquela época. Ela lembrou cantando uma paródia do frevo EVOCAÇÃO, composta pela Vânia Papini e amigas.
“Felipe, Pedro Rolete, Guilherme, Moacir.
Cadê Fernando Totó? Cadê Carlinhos?
Mário Jorge? Carlos Cunha? Faixa Branca?
Dos assaltos saudosos…
Na alta madrugada, do Gramado saíam,
E as farras faziam,
E era um sucesso… das férias ideais,
Na Terra dos Marechais.
Adeus, adeus, minha gente,
Que já brincamos bastante,
As férias terminavam,
As aulas começavam,
E muita gente distante…”
Gramado da Pajuçara, marco cultural, social, encantamento dos amores das muitas gerações. Ponto de encontro de uma juventude que não morreu que ainda vive em muitos corações e mentes dos que ainda têm capacidade de amar.
De repente, não sei quando, o Gramado da Pajuçara virou Posto de Combustível. É de fazer chorar! E como dói!
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