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Os sapatos da sogra
Sóstenes, Chiquinho e Pedro são amigos inseparáveis desde os bancos escolares no Colégio Marista, todos se deram bem em suas vidas: dois empresários no ramo de automóvel e um Juiz de Direito.
Muito bem casados, com famílias bonitas. Afinal trabalharam muito, são vencedores, sem muitos problemas financeiros, estão beirando os cinquenta anos.
Não se sabe se por educação, cultura ou congênito, os três padecem de um grave defeito, se assim pode definir. Eles têm uma compulsão incurável por uma namoradinha, são mulherengos incorrigíveis. Caso patogênico, não podem passar sem pular a cerca e cair nos braços de uma bela jovem de programa.
Resolveram alugar uma casa para que fosse diminuída a despesa de motel, ter mais conforto e segurança. No bairro do Clima Bom acharam a casa ideal, quatro quartos avarandados e um lindo jardim, muito verde, aconchegante residência, local discretíssimo.
Todas as sextas-feiras tornou-se tradicional um almoço com pratos baianos. A cozinheira Dona Stela, prepara um gostoso caruru, o prato favorito de Chiquinho que, muito comunicativo, leva amigos para o almoço. Existe apenas uma restrição, só pode entrar convidado se estiver devidamente acompanhado. Solteiro nunca, para evitar o 9º Mandamento da Lei de Deus: “Não desejar a mulher do próximo”.
Numa sexta-feira Chiquinho esqueceu o casamento de um sobrinho. Dona Clarissa, sua mulher, telefonou para seu celular quase seis da noite, na hora que Francisco recebia os carinhos da namorada da vez, Iracema. A esposa lembrou o casamento do sobrinho e pediu para que ele apanhasse a sogra no bairro Farol, ela iria ao casamento com eles. Chiquinho olhou a hora, restava pouco tempo, fez o que tinha que fazer, e pediu a Iracema para dar uma pressa. Despediu-se do pessoal, caminhou abraçado à namorada em direção ao carro, ela entrou descalça, levava entre os dedos um belo par de sapatos marrom glacê, cor da moda.
No bairro da Pitanguinha deixou Iracema. Em frente à bela casa da sogra, buzinou. Ela estava esperando, rapidinho entrou no carro. Partiram em direção à Ponta Verde onde Chiquinho mora num luxuoso Edifício. No caminho conversam amenidades, ela reclamando dos sapatos apertados, sorria com as histórias do seu genro. Francisco era o quinto entre genros e noras de Dona Marina e o mais querido pelo seu humor e simpatia.
Quando o carro parou no edifício, a sogra não quis descer. Francisco subiu pelo elevador e ainda conseguiu se aprontar antes de Clarissa e desceu antes da esposa, para fazer companhia à sogra. Dona Marina já havia passado para o assento traseiro.
Ele entrou no carro, sentou-se no banco da direção, ao olhar ao chão do automóvel, ficou apavorado. Lá estava um par de sapatos marrom glacê. Veio-lhe uma aflição, aperreado, encheu-se de raiva de Iracema que na pressa havia deixado os seus sapatos. Que amadorismo! Não teve dúvida, antes que Clarissa descesse, apanhou disfarçadamente os sapatos e numa manobra circense conseguiu jogá-los entre os coqueiros da Praça Gogó da Ema, perfeita discrição. A sogra, no banco de trás, não percebeu.
Foram os três para a igreja de Santa Terezinha, no lindo mirante do Farol. Casamento altamente concorrido, elegante, entre duas tradicionais famílias, igreja cheia. Entre os padrinhos estavam o governador Ronaldo Lessa, o Senador Téo Vilela e Francisco. A fina flor da sociedade, alto luxo, lindos vestidos decotados das mulheres que faziam o charme, naquele badalado evento social, era o casamento do ano considerado pelos cronistas sociais. Nesse dia os jornais só deram fotos e notícias do casamento.
Assim que estacionou o carro, Francisco desceu junto com Clarissa, e, como um cavalheiro, foi ajudar a sogra a sair do carro. Naquele momento Dona Marina afobada procurava os sapatos, dizendo que os tinha deixado no chão da frente do carro. Foi quando Chiquinho percebeu a mancada: Havia jogado fora os sapatos da sogra, pensando que eram de Iracema.
Procura, mexe e remexe em todo carro. Incompreensível, ninguém sabia explicar e ficou para sempre o grande enigma do sumiço dos sapatos de Dona Marina.
Francisco teve de ir rápido, com a sogra, buscar outro par de sapatos. A se ver safo de culpa, dirigiu até a casa da sogra, no íntimo dando boas gargalhadas. Durante a bela recepção do casamento, Francisco sorrindo, divertido, um copo de uísque e gelo na mão, com seu alto astral e bem humorado contou-me a incrível história do sumiço dos sapatos da sogra.
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