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Guia de turismo acidental

11/09/2022
Guia de turismo acidental

Outro dia recebi uma inesperada visita de meu amigo Quincas. Em minha varanda, contemplando o mar da Jatiúca, entre uísques e tira-gostos, conversamos, relembramos velhos tempos. Quincas era tenente, eu capitão no 20° BC, amizade de caserna fica para o resto da vida. Depois de enaltecer e louvar meu novo livro, ele comprou dois exemplares do romance Jequiá para presentear o pai e a irmã. Envaidecido pelos elogios graciosos, dei-lhe dois exemplares a preço de custo. Quincas saiu contente da vida.

No sábado seguinte por volta do meio-dia, ele me telefonou perguntando se eu poderia ir ao Hotel Ponta Verde, alguém queria meu autógrafo e me conhecer. Não me fiz de rogado, fui ao hotel. Ao entrar no saguão vejo Quincas acompanhado por uma bela mulher de short branco, curto, blusa azul claro transparente, usava por baixo um biquíni. Calculei a idade entre 40 e 50 anos. Uma coroa de alto padrão, feita nas academias e nos cirurgiões. Fiquei encantado com o sorriso da madame. Achei-a parecida com Caterine Denève, surpreendi-me quando abriu os braços se apresentando: “Sou Paulinha Lemos, sua nova fã”. Abraço apertado e perfumado; usava “fleur de rocaille”. Simpática falou que tinha adorado minhas histórias, pediu a dedicatória me entregando o livro. Sentamos num sofá, mal cabíamos os três. Autografei, conversamos alegremente. Paula, paulista de Araraquara, estava encantada com a beleza do Nordeste, não conhecia cor de mar mais bonita que da praia da Ponta Verde. Eu empolgado. O maior pagamento de um escritor é alguém gostar de seus escritos. A espontaneidade e o charme da mulher me fascinaram, a conversa se prolongou. De repente Quincas, levantou-se puxando Paulinha. Estava na hora de comer uma moqueca de siri no Akuaba. Sequer, por delicadeza, me convidou. A paulista deu-me um beijo molhado no rosto. Prometeu-me divulgar o romance. Os dois saíram de mãos dadas rumo ao restaurante baiano.

 Ontem recebi um telefonema de Quincas, dessa vez, foi enfático, confessou o que estava acontecendo: “Amigo, você sabe que ano passado me separei de Maria Augusta. Estou solteiro novamente, morando num pequeno apartamento na praia. Por comodidade, comecei a tomar o café da manhã no Hotel Ponta Verde. Não é que descobri uma mina. As turistas, coroas, bonitas e carentes viajam a fim de se divertir. Certa manhã, eu conheci duas turistas, convidei-as a um passeio nas praias do litoral norte. Elas se encantaram, passaram uma semana em Maceió, fui guia de turismo voluntário, aliás, é minha nova profissão depois de aposentado. Paulinha foi uma delas, visitou diariamente meu apartamento antes de voltar para Araraquara. Foi aí que percebi, boa parte dessas belas mulheres que nos visita, está a fim de um caso sem compromissos, uma aventura de leve, conhecer gente da cidade, conhecer lugares sem turismo oficial. Em geral são pessoas cultas, gostam de folclore, danças. Paulinha leu seu romance em meu apartamento, amou, leu de uma só vez deitada na cama, dei-lhe de presente. Ela fez questão de seu autógrafo. Foi quando tive a ideia, oferecer seus livros às minhas pretensas paqueras, comprei mais quatro na livraria. Não tenho mais algum exemplar, dei de presente às belas turistas que nos visitam. Minha abordagem é impecável, analiso as turistas na hora do café da manhã, pelo olhar sinto se ela é acessível. Assim que ela acaba de tomar café, peço licença, sento-me à mesa estendo o livro, faço maior floreio com o autor: um dos bons escritores nordestinos, gente fina, meu amigo. Como ela tem olhar inteligente, interessa ler, é a entrada para um convite a um passeio pelas praias. Assim, as visitas ao meu apartamento se deram com maior facilidade. O segredo é saber escolher a mulher. A única que perdi, não prestei atenção, era argentina, não entendia muito o português ou não quis conversa, mas ficou com o livro. É isso meu amigo, tenho que aproveitar o restinho de vida. Graças aos seus livros estou adorando minha nova fase de guia de turista acidental. Agora que entramos no verão, Maceió vai explodir de turista. Preciso urgente de mais quatro livros, a preço de custo. Favor deixar na portaria do prédio. Diga o valor que eu passo um PIX.”

Fiquei surpreso com a história contada ao telefone pelo meu amigo. Prometi deixar quatro exemplares do JEQUIÁ na portaria, a preço de custo. Afinal, meu livro está se prestando a uma nobre causa, o incentivo ao turismo em nossa bela cidade.