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A grande preocupação das cabeças burocráticas
Motivação. Creio que não há palavra mais entediante do que essa no vocabulário que é utilizado de forma corrente em nossa época. Dá-se a impressão de que se nós estivermos, todo santo dia, tremendamente motivados, ligados no duzentos e vinte, tudo estará resolvido. Pois é. Mas não é assim que a banda toca.
Qualquer pessoa suficientemente madura sabe muito bem que no nosso dia a dia o elemento de ordem motivacional é mínimo, para não dizer insignificante. Não apenas isso. Na maioria das vezes, tais elementos dessa feição são simplesmente desnecessários.
Aliás, quanto mais uma pessoa se preocupa com a sua motivação, mais ela corre o risco de se ver mergulhada, até os gorgomilos, em uma sorumbática lagoa de desânimo. Na verdade, é o que vemos acontecer, com grande frequência, com muitas pessoas. É o que vemos rotineiramente acontecer com as tenras gerações.
E de tanto dar importância para este elemento pra lá de secundário, acaba-se por desdenhar de forma significativa um quesito que, a meu ver, é de fundamental importância para formação do caráter e para a edificação da personalidade de uma pessoa. No caso, seria o senso de compromisso. A capacidade de nos comprometer.
Quando assumimos um compromisso, com algo ou com alguém, nós não ficamos olhando para o teto da casa nos perguntando se estamos com o astral legal ou não. Nós simplesmente honramos o compromisso que assumimos, sem choro, nem vela.
E o mais engraçado nisso é que, ao final, depois de termos realizado aquilo que havíamos nos comprometido de fazer, nós nos sentimos realizados como pessoa, satisfeitos com o dever cumprido.
Não apenas isso. Toda pessoa minimamente madura sabe muito bem que quando não entregamos algo que deveríamos entregar, cedo ou tarde, as consequências irão bater em nossa porta.
Por exemplo: se nós não fizermos o almoço, não apenas todos na casa ficarão sem comer, como também ficarão, com razão, pau da vida conosco. Se eu não entregar algo que me foi encomendado por um cliente, não apenas perco o contrato, como corro o risco de perder este e muitos outros clientes pela minha falta de compromisso.
Se formos estender o causo, a prosa vai longe, por isso, vamos encurtar a conversa e voltemos os nossos olhos para as tenras gerações e vejamos como o estímulo ao comprometimento destes para com as suas obrigações estudantis passa longe, bem longe, das cabeças daqueles que, com suas ideias inovadoras, determinam a toada da educação nesta terra de desterrados.
A grande preocupação das cabeças burocráticas, e das mentes diplomadas, frequentemente está em torno das mais variadas maneiras hi-tec, recém chegadas no mercado, de motivar os mancebos. Uma montoeira de traquitanas, tão engraçadinhas quanto ordinárias, que procuram tornar tudo estimulante, feito uma partida de videogame, mas que caminham léguas de distância do estímulo ao comprometimento consciente do jovem para com o cumprimento dos deveres inerentes a sua condição de aluno.
E o sinal mais claro e compreensível de que não atingimos o mínimo esperado em relação aos nossos estudos não é a possibilidade da recuperação, da recuperação, da recuperação do “se liga”, misturado com duas porções de autoajuda e 3⁄4 de vídeos motivacionais. Não cara pálida. É a clara possibilidade da efetivação de uma reprovação.
Para que este tome consciência dos seus deveres de estudante, o não cumprimento destes deve ser consequente para que, gradativamente, ele vá adquirindo um claro senso de comprometimento. Senso de responsabilidade esse que irá irradiar seus efeitos benfazejos em todas as esferas da sua vida.
Quando compreendemos que todas as escolhas e decisões que tomamos em nossa vida são consequentes, nós passamos a entender que o centro pulsante da nossa vida não é o quão motivado nós esperamos estar, mas sim, o quão comprometidos nós estamos com aquilo que nos foi confiado.
Mas, infelizmente, como todos nós sabemos, não é assim que a banda toca e, a depender das ideias politicamente corretas que fazem a cabeça daqueles que têm o timão da educação em suas mãos, dificilmente veremos um doutor em educação, ou um burocrata [politicamente apadrinhado] apontar para essa direção.
Porém, nada nos impede de agirmos dentro do quadrado da nossa vida, de procurarmos nos comprometer, de forma efetiva, com a correção dos equívocos que habitam nossa alma. Literalmente, nada, nada nos impede de nos dedicarmos a essa empreitada, a não ser nossa intratável má vontade.
Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela – professor e cronista ([email protected])
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