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Relatos de epóca

01/08/2022
Relatos de epóca

Recentemente ao organizar uma das dependências de minha residência onde guardo itens antigos que foram importantes em fases da vida, encontrei caderno já com as folhas amareladas pela ação do tempo e em sua última página, estava escrito a punho por mim próprio exatamente assim: “Você pode encontrar as coisas que perdeu, mas nunca as abandonadas.”

Meditando sobre tais dizeres, de repente recordei hábitos interessantes que cultivei, ou assisti serem praticados em tempos idos, mas que nunca foram esquecidos:

Cartas aos milhares por mim escritas. A forma mais segura de neutralizar a saudade dos que queria bem quando longe me encontrava, formam ainda hoje um verdadeiro acervo de acontecimentos retratando linda época sempre lembrada, na atualidade, item que juntamente com os telegramas e telegrafistas perderam o prestigio

Cinemas de rua, com suas sessões matinais ou soirée, diversões sempre buscadas por todos, em uma Maceió de outrora, cuja oferta de diversão era ainda escassa.

Jornais em papel lidos diariamente por meus pais, trazendo notícias do dia anterior, além dos gibis colecionados com carinho, tendo personagens como verdadeiros ídolos da criançada: Roy Rogers, Fantasma, Mandrake e tantos outros.

Os cumprimentos das mulheres brasileiras, umas com as outras, sempre oferecendo beijinhos na face enquanto homens trocavam abraços respeitosos, uma forma de afetividade natural, que surpreendeu meus pais americanos, quando aqui estiveram a passeio, em meados dos anos setenta do século passado.

A escola de datilografia, um verdadeiro aparato tecnológico em minha juventude, habilidade necessária a todos os que desejavam entrar no mercado de trabalho ao concluir o curso secundário. Lembro bem que para obter o diploma, no exame final, o desafio era teclar mais de cento e sessenta toques por minutos sem cometer erros, tendo os olhos totalmente vendados, sempre usando todos os dedos das mãos.

A cada dezembro, recordo, meus pais recebiam como presente calendários que pendurados na parede, seriam consultados no ano seguinte, de onde diariamente se retirava uma folhinha trazendo um número e o santo daquele dia.

As lojas de tecido existiam aos montes, uma vez que as roupas usadas eram preparadas por costureiras e até por nossas próprias mães e avós.

Tempos bons em que as crianças preparavam os artefatos com os quais brincavam: carrinhos de rolimã, espadas e escudos feitos com tabuas e pedaços de ripas catados nas redondezas, boi de barro, jangadas feitas de troncos de bananeira para flutuar nas aguas mansas da Praia da Avenida.

Nunca esqueci quando o corpo do meu avó foi velado na sala de sua própria casa, e na manhã do dia seguinte, a todos os que ali chegavam para o último adeus, era oferecido um gostoso desjejum repleto de iguarias vindas da fazenda.

A tecnologia floresceu modificando conceitos e hábitos, porém usar o passado para entender o presente é muito importante, porque é através das histórias de outrora que podemos aprender mais sobre nós mesmos.