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Diante das portas da histeria coletiva
O ser humano necessita de um mínimo de coesão, organização e de hierarquia dos conhecimentos para poder ordenar os seus pensamentos e ações à luz de sua consciência individual. Para edificar tal ordem interna do ser, é imprescindível que tenhamos no topo dessa hierarquia, a majestade da verdade, para que ela possa balizar e ordenar os nossos conhecimentos e dar um mínimo de consistência à nossa vacilante personalidade.
E é por isso que, em muitas ocasiões, procuro, dentro de minhas limitações, chamar a atenção para essa grave chaga que é o relativismo moral e cognitivo, que é literalmente uma das colunas de sustentação da mentalidade que hoje impera entre nós [e em nós] que, consequentemente, acaba por influenciar fortemente a nossa maneira de pensar, sentir e perceber a realidade, como muito bem nos lembra o filósofo Julián Mariás, em seu livro “Mapa del mundo personal”.
A partir do momento que abdicamos de procurar com honestidade a verdade, estamos abrindo espaço para que as mais vis arbitrariedades se imponham sobre nossas vidas, fantasiadas, é claro, como se fossem a inocente expressão da mais plena liberdade humana [só que não].
Pois é, muitas vezes nos esquecemos que a tirania, bem como a farsa, não se apresentam a nós como elas realmente são. Muito pelo contrário. De um modo geral, as ditas cujas se apresentam diante de nossas vistas trajadas com uma imagem bem diferente da sua vil natureza.
A farsa, na maioria das vezes, nos é vendida como uma forma singular de esclarecimento e, a tirania, como sendo a única alternativa para nos livrar do mal maior que [supostamente] ronda a sociedade e, para que tais subterfúgios possam atingir plenamente sua eficácia, é imprescindível que as pessoas não mais acreditem na existência da verdade e, muito menos, a procurem para nela viver e ser.
Ora, se tudo é relativo, a noção de verdades universais passa a ser substituída pela afirmação da validade incontestável de nossos caprichos, pessoais e grupais, como se estes devessem ser reconhecidos por todos como se eles tivessem uma validade inquebrantável, conforme nos ensina o Papa Francisco, em seu livro “Quem sou eu para julgar?”
Aí meu amigo, a porca torce o rabo bonito. Se todos querem que seus caprichos sejam aceitos por todos como algo tão válido quanto um “princípio categórico”, nós não teremos, como havíamos dito, o reino da liberdade, mas sim, estaremos abrindo as porteiras para a tirania, porque não serão nossos caprichosos que irão ditar os rumos da vida, da nossa vida, mas sim, aqueles que saberão muito bem como manipulá-los.
Até pouco tempo atrás, quando uma pessoa estava procurando conhecer algo, essa pessoa, estava se esforçando para conhecer alguma verdade, mesmo que isso fosse de forma deficitária e limitada. Agora, sob a tirania do relativismo, como nos ensina Roberto de Mattei, em seu livro “A ditadura do relativismo”, o babado é bem diferente. Não mais se procura a verdade sobre algo, mas sim, a pueril afirmação daquilo que nós queremos que seja verdade o que, com o tempo, acaba convergindo numa assembleia de desesperançados inconsequentes que, por estarem nessa frágil condição, passam a seguir qualquer coisa que lhes traga alguma sensação de alívio psicológico momentâneo.
De mais a mais, não podemos nos esquecer, conforme nos adverte o filósofo Louis Lavelle, em seu livro “A consciência de si”, que a luz de nossa consciência individual não é um mero elemento que nos guia em meio às trevas que nos rodeiam para nos desorientar, não; ela, nossa consciência, é o nosso próprio ser. Essa luz somos nós e, quando ela diminui, somos nós que minguamos; é a nossa existência que se apequena. E se a luz da nossa consciência se apaga, é nossa vida que é aniquilada.
Por isso repito: se tudo passa a ser considerado moral e cognitivamente relativo, com o tempo, as consciências morais dos indivíduos acabarão ficando fragilizadas a tal ponto que as pessoas necessitarão de algo que lhes dê alguma sensação de segurança artificiosa e, em regra, essa será encontrada em alguma forma de tirania que cale todos aqueles que se apresentem como discordantes. E isso será feito, utilizando-se, é claro, da histeria da legião dos suplicantes desorientados e devidamente instrumentalizados.
Detalhe importante: tais indivíduos, cheios de boa vontade e com uma gana totalitária sem precedentes, irão sem a menor cerimônia estigmatizar todos aqueles que não estiverem comungando do mesmo credo e, com o tempo, irão acabar condenando publicamente essas mesmas pessoas [estigmatizadas] por terem cometido o “crime” de discordar do distópico “grande irmão” orwelliano que tudo vê a partir dos olhos de todos aqueles que, voluntariamente, fazem parte de seu pérfido corpo militante sacramental.
E o curioso é que tal atitude, totalitária até o tutano, começa sua obra de engenharia comportamental negando a existência da verdade, relativizando todos os valores que existem e, tudo isso, com a aceitação complacente de todos aqueles que se consideram pessoas tremendamente críticas que, coincidentemente, também consideram tudo relativo; tudo, menos os disparates e os ditames que são afirmados pela histeria coletiva que os ampara, estimula e confirma em seus delírios ideológicos sem fim.
Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela – professor e cronista ([email protected])
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