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Por que o amor faz a diferença na gestão da saúde?
*Alberto Aguiar Santos Neto, diretor financeiro da Kairós Care e especialista em Saúde Pública e empreendedorismo na área. Ele é ortopedista com especialização em ombro e cotovelo. Como médico, sempre atuou em unidades públicas de urgência e emergência.
Sempre que visito unidades hospitalares no País, e adianto que a maioria é unidade de saúde pública, me vem à cabeça a mesma pergunta: o que poderia ser feito ali para melhorar não apenas a assistência, mas, também, outros aspectos, entre eles a gestão de processos, finanças, faturamentos, treinamentos e controle de qualidade?
A respeito disso, o consultor americano Michael Porter, que é considerado uma das maiores autoridades em estratégia competitiva no mundo, em seu livro recém-lançado “Repensando a Saúde – estratégias para melhorar a qualidade e reduzir os custos”, convoca os leitores a refletirem sobre um tema atual e de grande importância: as crescentes dificuldades dos sistemas de saúde em todo o mundo. O livro tem repercutido entre gestores da área em diversos países e propõe a mudança de rumo no modelo vigente.
No SUS – Sistema Único de Saúde, como sabemos, os recursos são escassos. Em contrapartida, os desperdícios são imensos: exames repetidos, medicações vencidas, tratamentos sem seguimentos, internações desnecessárias e de longa duração e judicializações recorrentes.
Se implementarmos nesses estabelecimentos formas de gestão compartilhada e uso de tecnologias, não apenas na parte da Informática, mas também de medicamentos, tratamentos e comunicação, é possível otimizar os recursos por meio de um sistema integrado de operação. E, assim, unidades que pareciam ineficientes passam a operar de uma forma mais harmônica, dando sentido a sua função.
No entanto, em muitos casos, isso não depende apenas da boa vontade dos gestores ou de recursos para as unidades. Nem sempre um canal aberto de comunicação interessa a quem ele se destina.
A verdadeira essência dos hospitais
Hospitais são os locais mais verdadeiros que existem, pois, ali, os seres humanos mostram como são em sua essência. Nesses ambientes, ouvimos as preces mais honestas e vemos as despedidas e os beijos mais sinceros.
É por isso que noto semelhanças em todos os hospitais que visito, apesar da forte insistência de todos para mostrarem suas particularidades, comentando “doutor, aqui é diferente”, “aqui existe problema tal”, “o sistema aqui é diferente”, “o paciente aqui não faz aquilo” e “geralmente aqui não conseguimos isso”. São inúmeras as colocações de individualidades.
Em todos os hospitais, independente de onde estão localizados, o que hoje eu consigo enxergar são unidades cada vez mais iguais, pois a doença não muda. O diabetes sempre será diabetes, hipertensão é hipertensão e hospital, sinal de esperança.
Hospitais são feitos de pessoas para pessoas. Estamos falando de unidades que têm 70% de suas despesas com folha de pagamentos. Os usuários são sempre pessoas acompanhadas e, com isso, o “problema” chega sempre em dobro pelo menos.
Como são as pessoas o principal foco de um hospital, vejo a importância das pesquisas de satisfação dos usuários e, acrescentaria, das avaliações com os colaboradores, tratando as informações obtidas para podermos identificar esses problemas ocultos que tornam a unidade ineficiente.
Retomando o raciocínio do início, quando me perguntam sobre qual seria a estratégia para aquela unidade, o que eu poderia contribuir na melhoria da mesma, como eu atuaria na gestão, posso afirmar que é “fazendo com amor”. Sim, amor!
Devemos tomar decisões com empatia para com usuários, acompanhantes, colaboradores, prestadores de serviços, órgãos de controle e todos os envolvidos neste afinamento do instrumento chamado saúde. Do contrário, sem colocar o amor na frente, você não consegue fazer nada de melhoria, qualidade e controle. Agora, se há amor, nós temos ferramentas que melhoram os processos, evitam desperdícios e qualificam a comunicação e a assistência.
É com amor que podemos compreender que em uma doença grave, muitas vezes, o que o paciente precisa é de mais atenção e gestos de carinho. Com amor, o colaborador que observa um desperdício diário em sua frente, entenderá que aquilo pode vir a faltar para um parente ou necessitado. Com amor, aquela vaga de UTI tão distante torna-se realidade, apenas pelo fato de melhorar a comunicação, pois você se coloca naquela situação.
Peço que gestores de saúde, principalmente, tenham essa ferramenta de trabalho essencial em seu escopo, pois é a partir dela que vemos sonhos se realizando. E se conseguir disseminar isso onde você atua, todas as carências e necessidades vão se atenuando de uma forma deslumbrante.
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