Graduado em direito, prestou concurso público para lecionar em instituição federal, realizou especialização e mestrado na Europa e concluiu seus estudos em pais da America do Norte, esse é Jesualdo em sua versão acadêmica.

Outro dia estávamos reunidos relembrando aventuras vividas quando ele me falou que apesar de muito estudar, nunca deixou de encontrar tempo para divertir-se, praticar esportes e enquanto ausente, acalentar saudades imensas de sua amada e querida Generosa.

Em sua última experiência como discente, hospedado em alojamento, bancado pelo governo canadense, tinha a seu dispor as facilidades necessárias ao seu conforto pessoal, menos aparelho de TV, pois o brasileiro que o antecedera por lá, ao realizar o check out, havia levado consigo a televisão do quarto.

Mesmo com clima frio, beirando zero grau, Jesualdo se aquecia e saia para correr diariamente, atravessando movimentada avenida, incursionando por alamedas do lindo parque Majors Hill com vista para o canal Rideau, quase sempre tendo suas águas congeladas. Com a chegada do verão, a temperatura subiu para quinze graus ao meio dia e sua rotina esportiva continuou de forma mais amena.

Certa manhã, ao chegar no ambiente costumeiramente frequentado durante o inverno, presenciou algo que o espantou, pois enxergou milhares de pessoas, de todas as idades, nuas expondo-se aos raios solares. Eram crianças, jovens e adultos de ambos os sexos que andavam, corriam, praticavam esportes diversos ou simplesmente deitavam sobre toalhas espalhadas na relva.

Jesualdo ficou loucamente maravilhado. Nunca vira tantos corpos sem roupas em um só ambiente. Dias seguintes, sempre retornou, sentando-se em locais privilegiados e simulando ler um jornal com um furo no meio da página, mirava o que lhe interessava por horas a fio. Depois cansou do voyeurismo, pois estava sofrendo muito.

Outro fato interessante foi verificar a presença no elegante saguão do local onde estava hospedado, de mulheres altas, bonitas, bem vestidas e muito cheirosas, todas falando português com sotaque carioca, fato que se repetia costumeiramente.

Jesualdo descobriu serem tais meninas, modelos brasileiras, escolhidas a dedo e muito bem pagas para fazerem companhia a nossas autoridades de então que ali chegavam, cada um encontrava o seu par, para juntos, em veículos alugados e com motorista conhecerem as maravilhas da região e divertirem-se por dias a fio para depois retornarem ao nosso país tropical.

Consciente de ser tal farra paga com dinheiro público, Jesualdo resolveu atentar para ver quem seriam os beneficiados figurões e ficou estarrecido por reconhecer muitos os quais só havia visto nas edições do Jornal Nacional, mandando e desmando em tudo o que acontecia no Brasil, votando leis e criticando o errado.

Tempos depois Jesualdo viu o cidadão que agenciava e recrutava as garotas, ser nomeado como titular de um importante órgão da estrutura organizacional do país.

São fatos inesquecíveis do período em que Jesualdo fortalecia o seu saber.