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Mantenha lonjura

17/09/2021
Mantenha lonjura

Todo mundo quer uma panelinha pra dizer que é só sua e, querer isso, um grupo de bons amigos, sejamos francos, não é o fim do mundo, de jeito maneira; mas pode se tornar um Deus nos acuda, o começo duma treta federal que pode nos arrastar para bem perto do abismo da alma humana.

É muito bom podermos nos encontrar com pessoas que tem suas vistas voltadas para a mesma direção que nossos olhos estão a mirar e que cultivam um forte sentimento por coisas que nós, também, temos um grande apreço.

Quanto encontramos pessoas assim, podemos dizer, sem medo de errar, que encontramos aquilo que os antigos chamavam de amigos, indivíduos com os quais compartilhamos nossos tesouros íntimos e esses, por sua deixa e de bom grado, partilham os seus conosco e, no final das contas, os tesouros de cada um dos membros da confraria acabam sendo as mesmas coisas.

Porém, vale lembrar que amizade, enquanto relação amorosa que é, necessariamente manifesta-se de forma graciosa; quem ama doa-se sem nada exigir; se cobra é porque está prestando um serviço, uma consultoria, ou algo desse naipe. Simples assim.

E é justamente aí que ficamos próximos [barbaridade] do abismo da alma e sentimos que o precipício da existência pode querer nos tragar para bem longe de nossa humanidade.

A partir do momento que a aceitação grupal cobra um preço, pouco importando qual seja, exigindo algo que está muito além dos laços de lealdade que se estabelecem entre amigos, é sinal de que estamos sendo reduzidos a um reles instrumento nas mãos maliciosas de terceiros.

Aí, se estivermos com a alma debilitada, fragilizados pela monotonia da vida moderna, eis que a panelinha passa a nos cozinhas em fogo brando, nos deixa frente a frente com o que há de pior em nós, arrastando-nos para baixo e isso, obviamente, não é amizade; é outra coisa, cujo nome não precisamos dizer, mas que devemos manter uma boa distância para não nos perder.