Artigos

Mais um absurdo cultural

31/08/2021
Mais um absurdo cultural

Quem lê a história da Cinemateca Brasileira, situada em São Paulo, logo entenderá as causas da sua destruição pelo recente incêndio. É pura desídia. Aliás, como acontece em outras repartições que deveriam ser  assistidas pelo governo federal, como ocorreu também com o Museu Histórico, no Rio de Janeiro. Sem recursos de manutenção, o fogo  é uma consequência  natural.

Agora, as nossas autoridades centrais estão preferindo uma solução mais simples: a venda dos imóveis. Em minha longa carreira, talvez seja a iniciativa mais estapafúrdia de todas: leiloar o Palácio da Cultura, no centro do Rio, onde por muitos anos funcionou o Ministério da Educação e Cultura.

É um prédio histórico, projetado pelo arquiteto franco-suíço Le Corbusiser, com a ajuda de profissionais do porte de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. Só isso seria suficiente para que tivéssemos orgulho do grande edifício, cujos jardins foram elaborados pela genialidade de Roberto Burle Marx. Ele sempre recebe muitas visitas, até de estrangeiros.

Tive a honra de trabalhar lá por dois anos (1987-1988), quando presidi a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, uma espécie de apêndice do Instituto Nacional do Livro. Os atuais dirigentes da cultura brasileira, do alto da sua sólida ignorância, ofereceram o prédio ao Ministério da Economia, para fazer dinheiro, ou seja, vai virar parte do leilão que está sendo engendrado. Não se sabe o destino dos recursos a serem amealhados, mas desconfia-se que terá muito pouco a ver com a cultura. O atual presidente da República fechou o Ministério da Cultura e não se ouve uma só palavra sobre a sua possível volta.

Lembro que no prédio há um espaçoso auditório, de muitas realizações. Tive o prazer de fazer algumas palestras naquele local. Agora, será o quê?

O que causa espécie é que decisões assim esdrúxulas são tomadas sem que haja a reação esperada. No caso do Rio, com o fator agravante de que estamos sendo descaradamente esvaziados, depois de sermos considerados a capital cultural do país. Uma pena que isso esteja acontecendo.