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Ensino em casa
Vem aí o ensino em casa, votado pela Câmara dos Deputados. Não chega a ser uma iniciativa que mereça entusiásticos aplausos, pois ela é limitadora na sua essência. Embora exista em 65 países e só nos Estados Unidos tenha 2 milhões de crianças, chega ao Brasil, como sempre acontece, por ação da nossa mania de copiar o que vem de fora, sem atentar para a nossa realidade sociocultural. O país pede esse tipo de ensino? Temos sérias dúvidas.
Se fôssemos considerar as consequências da pandemia, poder-se-ia defender a ideia. É melhor isso do que nada. O homeschooling, dirigido pelos próprios pais, é uma saída para a interrupção das aulas. Mas quem diria que temos pais preparados, em quantidade e qualidade, para enfrentar o vulto desse enorme compromisso?
Há muita gente falando no assunto, numa farolagem descabida. Quando se usa esse argumento limitativo, somos obrigados a ouvir que a lei irá prescrever a existência de preceptores, para compensar. Com a nossa vasta experiência (inclusive como aluno de escolas públicas do Rio de Janeiro e de São Paulo), duvido da competência desses mestres improvisados, buscados não se sabe onde e formados possivelmente na famosa escola da vida. Nossas crianças merecem isso?
Quando ocupamos a Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro, no período de 79 a 83, ao estudar o assunto concluímos, com os nossos técnicos e especialistas, que a melhor ideia, quando existe a procura de vagas, é construir escolas espaçosas e com áreas generosas para a prática de esportes. Como fazer isso dentro de casa? Os pais têm compromissos com a manutenção familiar, o que se faz com trabalhos que exigem disponibilidades de horários. E os problemas alcançam igualmente as mães. Desconhecer isso é fugir à realidade.
De posse de dados concretos, de olho especialmente na densa Baixada fluminense, construímos em quatro anos o número apreciável de 88 escolas. É assim que se combate a carência de vagas. É assim que se protege a massa de crianças dos 4 aos 17 anos que devem freqüentar a escola. Uma pergunta que ficou no ar, em meio a essa discussão: quem vai pagar aos preceptores? Só visitas do Conselho Tutelar não serão suficientes para assegurar qualidade ao projeto. Sinceramente, não acreditamos nisso.
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