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Mimetizar é preciso
Tomás de Kempis, em sua obra “Imitação de Cristo”, logo no primeiro capítulo, nos chama a atenção para o que deveria ser o maior empenho de nossa vida que é, no caso, a meditação sobre a vida de Cristo, porque Cristo nos mostra a face de Deus e do homem; nos revela a face do Deus verdadeiro o do homem de verdade.
Ele nos diz isso de uma forma muito simples e, talvez, por isso mesmo, o que ele nos diz é tão importante e, provavelmente, devido a sua simplicidade, muitos de nós preferem ignorar suas palavras, com toda a empáfia e soberba nem um pouco originais, tão característicos de nossa época.
Se desejamos, realmente, entender as palavras de Jesus é imprescindível que nos esforcemos para procurar, dentro de nossas limitações e com o auxílio da Graça, conformar a nossa vida à Dele, porque Ele é o modelo, o exemplo a ser imitado.
Isso mesmo. Imitado. Se procurarmos deitar nossas vidas sobre as páginas que narram a vida dos santos, veremos homens e mulheres dos mais variados tipos, dos mais distintos ofícios, dos mais inquietantes temperamentos, esforçando-se para conseguir imitar o Senhor em algum aspecto que seja de sua divina personalidade.
Com a leitura atenta da vida dos santos nós aprendemos o quão importante é o ato de imitar para o crescimento humano de qualquer indivíduo. Estudando a vida desses homens e mulheres nós nos damos conta de como, muitíssimas vezes, nós acabamos por imitar atitudes de vidas, no mínimo, reprováveis, por termos permitido que nossos caprichos guiassem nossos passos por essa vida. Nos damos conta de como somos inconstantes e facilmente influenciáveis pelas ideologias, modismos e símbolos mundanos de respeitabilidade e, muita da fragilidade, que habita nosso ser, é fruto desse nosso desdém pela necessidade de aprendermos a imitar nosso Senhor e não os serviçais desse mundo.
Ora, o fato de desdenharmos a existência de algo não significa que esse algo irá desaparecer. Conscientes ou não, seguiremos nossa vida procurando modelos para seguir e mimetizar, pois apenas Deus cria o que bem quiser do nada; nós, de nossa parte, sempre precisamos de modelos para criar alguma coisa, pois, como nos ensina René Girard, somos essencialmente animais miméticos e, de mimetismo em mimetismo, vamos construindo, aos trancos e barrancos, a nossa personalidade.
Quando, por exemplo, vemos um fã de alguma pessoa, seja essa pessoa um atleta, um músico, uma personalidade histórica ou uma reles celebridade, é curioso o quanto o indivíduo procura conhecer a vida de seu ícone, inteirar-se das ideias e opiniões que ele cultiva para, de certa forma, ir se conformando com a figura reverenciada. Às vezes – muitas vezes, na verdade – nós reverenciamos muitas figuras pelos seus talentos e por sua personalidade, mas sempre, em nosso panteão particular, há aquelas que ganham um certo destaque, tamanha é a importância que atribuímos às virtudes que são encarnadas pelo caboclo.
Um caso curioso é o do jornalista Eduardo Bueno, que é um confesso fã – de carteirinha e tudo – de Bob Dylan. Diz ele que tudo que o abençoado produz, tudo que sai a respeito de Bob Dylan, ele compra, lê e coleciona. Segundo o Peninha, ele sabe mais a respeito do homem que o próprio Bob Dylan sabe a respeito de si mesmo.
Se isso é verdade, eu não sei. Mas não há dúvida alguma do quão grande é o afeto que ele nutre pela referida figura.
Noves fora zero, voltemos a Cristo, que todos nós dizemos amar, que afirmamos ser nossa fonte de esperança e a rocha de nossa fé e, por isso, pergunto: será que nutrimos o mesmo interesse pela vida dele como cultivamos por incontáveis figuras meramente humanas, sejam elas virtuosas ou não? Essa é uma perguntinha espinhosa para respondermos diante do silente tribunal da nossa consciência.
Imitamos, cônscios ou não, inúmeros trejeitos, termos, lugares comuns, atitudes de uma montoeira de figuras que, através da grande mídia, das redes sociais e similares, acabam grudando em nossa personalidade de tal forma que, com o tempo, acabam se fundindo com o nosso ser e, sem querer querendo, acabamos por nos tornar uma caricatura de nós mesmos, imaginando que estamos sendo originalíssimos, quando, na verdade, estamos apenas nos reduzindo a uma cópia fajuta, criticamente crítica, desprovida de valor e substância.
Se trememos diante dessa possibilidade, as palavras de Tomás de Kempis devem ser para nós uma fonte de orientação e, com elas e por meio delas, podemos tomar posse de seus conselhos, deixarmos de firula e começarmos a nos dedicar de corpo e alma a conhecer a vida de Cristo, a refletirmos sobre Ela e nos conformarmos a Ela.
Podemos, se assim desejarmos, nos esforçar para imitar o Mestre dos mestres, conhecendo a vida e a obra daqueles que dedicaram-se a imitá-Lo e, desse modo, podemos aprender o que significa seguir os passos Daquele que é manso e humilde de coração para, através desse modelo sublime, interpretarmos as desventuras em série de nossa vida; desventuras essas que foram vividas por nós por ignorarmos que se Cristo é o caminho, a verdade e a vida, logo, Ele é o modelo que deveria ser imitado por nós. Que deve ser imitado por cada um de nós. Mas, não o fazemos porque temos vergonha de fazê-lo, não é mesmo? E se temos vergonha, é porque adotamos como modelo as absurdidades desse mundo com as quais preferimos ser amoldados, nos deformando ao invés de nos formar como pessoa.
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