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O volúvel

12/04/2021
O volúvel

Contam os mais antigos que o pai de Jesualdo em sua época de solteiro era muito namorador.

            Habitual frequentador do então boêmio bairro de Jaraguá, tinha na boate Tabariz de propriedade do lendário Benedito Mossoró, o seu ponto predileto para encontrar meninas da vida fácil.

            A sua predileta era Gerusa, uma morena de lábios carnudos, corpo de violão e longos cabelos negros como a asa da graúna. Ao menos duas vezes na semana eles se encontravam reservadamente, colocando os desejos em dia. Cada vez mais a garota parecia apaixonada, enquanto o galã, todo convencido procurava divertir-se.

            Aproximando-se o dia do seu casamento, resolveu colocar um ponto final no caso mantido com a doce Gerusa, que raivosa, não aceitando a péssima notícia, recolheu-se  a seus aposentos no segundo pavimento do casarão, sem antes trazer consigo um latão de querosene que abastecia a geladeira, derramou no corpo, da cabeça aos pés, tocou fogo e se jogou das alturas, caindo na calçada externa, além de queimada, morta.

            A notícia foi um escândalo. Mas tudo se resolveu.

            Os tempos passaram, Jesualdo, mais cauteloso, apesar de haver herdado do genitor, o sangue de conquistador, tentava ser comedido em suas ações. Era conhecido por seus mais íntimos como “Jotinha, o come quieto”.

            Em um desses governos passados, Jesualdo foi convidado para ser o titular de uma importante Secretaria do Estado. No dia de sua posse, conheceu aquela que seria a sua assistente direta, segundo ele me falou:  cabelos cor do sol, autentica filha de Apolo, uma semideusa, mulher encantadora e charmosa. Foi amor à primeira vista.

            Viajavam juntos para o interior, despachavam em boates e motéis até altas horas da noite. Acontece que um dia, falou ele, a vontade de beijá-la era tanta, que apesar da sala de espera do seu gabinete estar repleta de pessoas para serem atendidas, resolveram dar um amasso.

E se deitaram sobre o birô, que não aguentou o peso dos dois e caiu, fazendo o maior barulho. Foi uma loucura para vestirem suas roupas antes que curiosos aparecessem.

            Até hoje ele jura, que estava sentado em sua cadeira despachando, quando a mesa a sua frente despencou. Só a mim contou a verdade.

            Em outra oportunidade, estava com minha esposa, filhas, inclusive meus pais em um dos restaurantes mais populares de Maceió, sempre cheio de clientes, quando vi Jesualdo estacionar o seu carro e descer de mãos dadas com uma garota.

            Imaginei tratar-se de sua esposa, que respondia pelo nome de Generosa, muito amiga de todos em minha casa, mas na realidade, era uma guapa cidadã, muito conhecida na cidade, por trabalhar como repórter. E o pior, ao me enxergar, veio ao meu encontro e quase gritando falou:  – Rostanzinho, amigo, precisamos nos encontrar para colocarmos os assuntos em dia. Eu quase morro de vergonha.

            Jesualdo é um fiel exemplo da máxima: “quem herda não furta”