Esportes
Fim do tumultuado ‘Brasileirão da covid’ traz alívio à CBF
Campeonato Brasileiro mais tumultuado do século, o “Brasileirão da covid” chegou ao fim nesta quinta-feira com sentimento de alívio para a CBF e os clubes. A maratona de 380 jogos concentrados em pouco mais de seis meses foi considerada por todos como uma espécie de sufoco necessário. O calendário congestionado, os desfalques gerados pelo novo coronavírus e o desgaste dos times foram prejuízos menores do que cancelar a competição e abrir mão de verbas de transmissão e patrocínio.
“Mais do que um alívio, terminar o Brasileirão é um sentimento de sucesso e de coragem. Não houve nenhum outro calendário no mundo que não tenha sido encurtado ou com torneios cancelados. Tivemos gestão capaz de enfrentar a crise”, disse ao Estadão o secretário geral da CBF, Walter Feldman.
A coragem teve um preço. Alguns times encararam surtos de covid-19, alguns com cerca de 20 casos simultâneos, como Flamengo, Palmeiras e Goiás. A falta de datas no calendário atrasou diversos jogos e fez com que somente na 36.ª rodada todos os times tivessem o mesmo número de partidas disputadas. Teve futebol no domingo de carnaval e equipes que entraram em campo somente dois dias depois do compromisso anterior.
“Se o futebol não tivesse voltado, o desemprego nos clubes seria gigantesco. Eles estariam em uma condição pré-falimentar. O público também não teria divertimento. Mais do que nunca, o futebol se tornou fundamental”, disse Feldman. Para compensar a falta de bilheteria nos jogos, a CBF abriu o cofre. A entidade abriu uma linha de crédito de R$ 100 milhões para os times da Série A e bancou todos os testes de covid-19.
“A maior contribuição da CBF é manter a estabilidade das competições previstas no calendário, garantindo aos clubes o cumprimento de seus contratos de patrocínio e direitos de transmissão”, disse o presidente da entidade, Rogério Caboclo. Antes de cada rodada, todos os jogadores, membros da comissão técnica e árbitros passaram por exames PCR.
A falta de dinheiro e os seguidos desfalques causados pelo coronavírus levaram os clubes a apostarem nas categorias de base. O Santos, por exemplo, até escalou o atacante Ângelo, de apenas 15 anos. Um estudo do Centro Internacional de Estudos de Esporte, na Suíça, comprovou essa mudança. Em comparação ao Brasileirão de 2019, a presença de jogadores revelados nos próprios clubes aumentou de 14,7% para 18,5%. Por outro lado, houve uma redução na quantidade de jogadores recém-contratados escalados. Caiu de 46,7% para 41,8%.
LIÇÕES – Quem acompanha o futebol avalia que o Brasileirão tumultuado pela pandemia pode deixar algumas lições. A principal delas é discutir a quantidade de partidas. “O calendário tem de ser repensado. São muitos jogos para poucos dias”, disse ao Estadão o ex-técnico Carlos Alberto Parreira.
Na opinião dele, o nível da competição foi baixo por causa do excesso de jogos. “É claro que essa maratona atrapalha, o ritmo não é o mesmo, nem a velocidade, nem o rendimento. Aumentam a margem de erro e as contusões. Falta tempo de recuperação”, explicou treinador campeão mundial em 1994.
Autor: Ciro Campos e Fábio Hecico, especial para a AE
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