Economia
Derrubada de veto e exterior pessimista empurram Ibovespa para o negativo
O tom cauteloso da ata do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) a respeito do ritmo de retomada da economia dos Estados Unidos ainda ecoa nos mercados internacionais, e isso também deixa o investidor da B3 na defensiva. Ontem, o Ibovespa já havia caído 1,19% (100.853,72 pontos), e hoje chegou na mínima aos 99.131,40 pontos.
Somado a isso, preocupações na seara fiscal brasileira se elevaram após o Senado derrubar o veto do presidente Jair Bolsonaro à medida que permite reajuste salarial para algumas categorias do funcionalismo público até 2021. O temor agora é de que a Câmara faça o mesmo hoje à tarde.
“O cenário lá fora já está complicado pois ainda não foi votada a nova a ajuda pacote fiscal nos EUA. Além do mais, teve a declaração do Fed. Isso deve afetar aqui também, mas hoje o noticiário interno pode prevalecer”, avalia a analista Sandra Peres, da Trademap.
Às 11h15, o Ibovespa cedia 0,54%, aos 100.305,84 pontos, reduzindo as perdas com melhora das bolsas em Nova York, e ainda após o Banco Central realizar leilão de venda à vista de dólares. No horário citado acima, o dólar à vista subia 2,02%, a R$ 5,6426, após máxima a R$ 5,6727.
A sessão da Câmara está marcada para começar às 15 horas. Conforme a analista, mesmo que haja alguma chance de a Câmara manter o veto, o mercado passará boa parte do dia ainda sob essa derrota de ontem no Senado. “E provavelmente, a decisão não será rápida”, completa.
O rombo que a medida pode causar nas contas públicas é estimado pelo Ministério da Economia está entre R$ 121 bilhões e R$ 132 bilhões. O ministro da Economia, Paulo Guedes, classificou a decisão dos senadores como “um crime contra o País”.
“Ao mesmo tempo em que derrubam esse veto, o governo deve prorrogar o programa de corte de salário da população. Ou seja, mantém de um lado e tira de outro, que sofre com o desemprego”, observa a analista.
O governo deve ampliar por mais 60 dias os prazos para que empresas e empregados firmem contratos para redução proporcional de jornada e de salário e também para suspensão temporária do contrato de trabalho, como forma de fazer frente ao impacto econômico gerado pela pandemia da covid-19. Além disso, há debate ainda quanto a manutenção ou não do auxílio emergencial.
O Ministério da Economia sugeriu estender o benefício até o fim do ano no valor de R$ 200, mas Bolsonaro considera pouco e quer algo intermediário entre isso e os R$ 600 atual.
Além de a questão interna incomodar, o investidor da B3 ainda segue atento ao exterior. Ontem, a ata do Fed avaliou que a pandemia de covid-19 segue com um efeito “substancial” na atividade econômica e projetou recuperação mais fraca do PIB dos EUA no segundo semestre. Além disso, o mercado segue atento às tensões sino-americanas, no aguardo de retomada das conversas sobre comércio entre autoridades dos EUA e da China, que deve ocorrer por telefone em breve, informou o Ministério de Comércio chinês.
As bolsas europeias ainda caem mais de 1%. Ainda preocupa os investidores a informação de que o banco chinês manteve suas taxas de juros de referência para empréstimos de curto e longo prazos pelo quarto mês consecutivo, contrariando as expectativas.
As bolsas asiáticas fecharam em baixa, mas o minério de ferro no porto chinês de Qingdao, na China, subiu 0,18%, a US$ 129,32 a tonelada, o que pode dar algum alívio às ações ligadas a commodities metálicas na B3. Vale ON subia 0,08%. Já o petróleo recua na faixa de 1,0%, prejudicando as ações da Petrobras.
As ações da Sabesp continuam no radar, depois que o governador paulista João Dória anunciou que a empresa fará uma capitalização para prestar serviços em outros Estados. Os papéis caiam 1,88%.
Autor: Maria Regina Silva
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