Economia

Pandemia acelera locação de caminhões e mantém produção de ônibus para fretamento

13/06/2020

A crise provocada pelo coronavírus está acelerando o segmento de locação de caminhões e contribuindo com montadoras na retomada da produção. Diante da falta de liquidez no mercado em razão da insegurança do setor financeiro em liberar crédito, várias empresas estão optando por essa modalidade.

Segundo locadoras, além de não imobilizar capital, o aluguel dispensa a empresa de serviços de manutenção. Para as fabricantes dos veículos, ajuda a amenizar a alta ociosidade das fábricas, que este ano deve ficar em cerca de 80% da capacidade instalada.

A Ouro Verde, de Curitiba (PR), é dona de uma frota de 5 mil caminhões e 3 mil equipamentos (carrocerias, máquinas agrícolas e para construção), dos quais 94% estão alugados. Neste ano, a empresa já registrou crescimento de 30% nos negócios em relação ao ano passado, impulsionado pelo setor do agronegócio, rodoviário, elétrico e de saneamento, informa o diretor comercial Manuel Silva.

“Neste período de pandemia, e com o consequente impacto negativo no caixa, a desmobilização dos ativos e o aluguel são demandas recorrentes para melhorar a situação das empresas”, afirma Silva. A empresa também opera com a chamada “Sale Lease Back”, modalidade de compra de frotas usadas para ser alugada aos antigos donos. “A empresa tem planos ambiciosos de ampliação da frota ainda neste ano, aproveitando a demanda e as boas oportunidades no mercado, bem como sua capacidade de investimento.”

A procura pela locação de caminhões começou a ganhar força nos últimos dois anos e teve empurrão extra na pandemia. “A crise atual acelerou a demanda por locação de caminhões, já que as empresas se viram obrigadas a estudar soluções para o curto prazo que pudessem reduzir custos e reforçar o caixa, sem afetar suas operações”, afirma Renato Vaz, diretor da Marbor Frotas Corporativas, de Mogi das Cruzes (SP), que tem 100 veículos alugados.

A também empresa lançou na semana seu plano de “Lease Back”, com pagamento à vista. “Compramos a frota e os clientes passam a alugar os veículos que antes eram próprios”, explica Vaz. “É uma forma de ajudar as empresas a recompor o caixa na crise.” Segundo a Marbor, nos últimos 12 meses o volume de locação de caminhões e utilitários aumentou 40%. O plano da Marbor é ampliar sua frota para 500 veículos em 2021, entre caminhões, vans e empilhadeiras.

Com 13,5 mil unidades para locação, o Grupo Vamos, da JSL, foi responsável nos últimos 12 meses por 4% das vendas de caminhões das montadoras, informa Gustavo Couto, presidente da locadora, a maior do Brasil no segmento. Criada no fim de 2015 em São Paulo, a empresa registrou crescimento de 30% ao ano, ritmo mantido mesmo no período de pandemia.

1% alugada

Couto afirma que, da frota total de caminhões em circulação no País, apenas 1% é alugada. Ele acredita que a participação da modalidade vai crescer, pois as empresas estão percebendo que não é preciso “carregar o custo de ter a propriedade do caminhão”, que implica, por exemplo, em ter equipe para administrar a frota e sua manutenção. Cálculos indicam que o custo do aluguel chega a ser 30% menor que o da aquisição.

O grupo tem mais de 400 contratos e também atua na locação de máquinas agrícolas. Os setores que mais demandam o serviço, segundo Couto, são os de agronegócio, logística e transporte, varejo e serviços como de telefonia, distribuição de energia e coleta de lixo. Os preços de locação partem de R$ 3 mil ao mês.

Um dos principais fornecedores do Grupo Vamos, a Volkswagen Caminhões e Ônibus tem cerca de 15% de sua produção voltada às locadoras. Em 27 de abril, a empresa e a Scania foram as primeiras montadoras a retomar atividades após as paradas de mais de um mês em razão da pandemia.

O presidente da VWCO, Roberto Cortes, diz que a locação “está ganhando terreno em razão da falta de liquidez das empresas” para adquirir veículos próprios neste momento. O complexo da empresa em Resende (RJ) emprega 4,5 mil pessoas, e apenas 1 mil voltaram ao trabalho por enquanto.

A Mercedes-Benz espera um aumento de mais de 50% nas vendas de caminhões para clientes de locadoras neste ano em relação a 2019. Roberto Leoncini, vice-presidente da divisão de caminhões, afirma que a demanda está aquecida pois várias empresas passaram a ver o aluguel como nova alternativa. “O aluguel de caminhões torna-se opção para empresas com capacidade de caixa impactada neste momento para investimentos.” Em sua opinião, a demanda deve vir de atividades básicas como coleta de lixo, limpeza urbana e empresas de distribuição de energia, que precisam de caminhões para manter suas atividades.

A Scania informa que têm recebido muitas consultas de locadoras mas não fechou nenhum negócio ainda. A empresa retomou atividades com equipe completa, dividida em dois turnos. Na semana passada, recebeu da PepsiCo encomenda de 18 caminhões movidos a GNV e/ou biometano, tecnologia lançada recentemente. As primeiras entregas estão previstas para agosto.

O presidente da Associação Brasileira de Locadoras de Automóveis (Abla), Paulo Miguel Junior, não tem números específicos da locação de caminhões neste ano, mas afirma que o segmento está crescendo bastante. Um dos setores que tem usado a modalidade, diz, é o da construção civil, que não suspendeu atividades na quarentena.

Ônibus

Além de caminhões, as fábricas de veículos pesados produzem ônibus, o segmento do setor automotivo mais castigado na atual crise provocada pela pandemia da covid-19. “Setores mais conectados às pessoas, como aviação, ônibus, táxis e aplicativos tiveram a maior depressão”, afirma Paulo Arabian, diretor comercial de ônibus da Volvo, com fábrica em Curitiba.

De janeiro a maio as vendas de caminhões caíram 26% ante 2019, e as de ônibus, 42,7%. As de automóveis e comerciais leves tiveram retração de 38%, segundo a Associação Nacional dos fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

Segundo Arabian, o que está movimentando a produção atualmente é a demanda para ônibus fretados, que representam de 12% a 15% do mercado. Empresas que já operavam com os fretados para transportar os funcionários estão encomendando novas unidades para atender as normas de manter os passageiros afastados, ou seja, um em cada banco, e intercalados nas fileiras. Arabian ressalta que as encomendas estão chegando porque várias empresas e escritórios estão retomando atividades. Os ônibus vão mais vazios, mas são necessárias mais unidades para transportar o mesmo número de pessoas.

No caso da Volkswagen Caminhões e Ônibus, a licitação vencida no ano passado para fornecer cerca de 3,6 mil ônibus para prefeituras dentro do programa Caminho da Escola, voltado ao transporte de estudantes em áreas rurais, é o que tem dado fôlego mínimo à linha de produção em Resende (RJ). “Temos de produzir em média 300 unidades por mês, com ou sem crise, pois temos um ano para entregar”, afirma Roberto Cortes, presidente da empresa.

A maior fabricante de ônibus do País, a Mercedes-Benz também tem o fretamento como segmento menos impactado nas vendas em relação aos demais. Um dos setores que tem exigido mais demanda, segundo a empresa, é o de celulose, que cresceu nos últimos meses e tem feito novos contratos com empresas de fretamento. Em abril a empresa vendeu 18 ônibus para fretamento e, em maio, 24, ou seja, um aumento de 33% de um mês para outro.

A Scania, por sua vez, informa que algumas empresas de ônibus urbanos de São Paulo voltaram a fazer cotações, aparentemente por causa da proibição de passageiros viajarem em pé, o que exige mais unidades nas ruas.

Em situação mais confortável, a Marcopolo, maior fabricante de carrocerias no País, fechou as portas por apenas 20 dias na quarentena e retomou atividades em abril. O diretor Rodrigo Pikussa informa que a empresa opera com nível de atividade de 50% nas fábricas no Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, e de 100% no Espírito Santo.

No caso do mercado brasileiro, segundo ele, as vendas no primeiro trimestre registraram crescimento tanto no segmento de urbanos como rodoviários, de mais de 50% em relação ao mesmo período de 2019. Desde abril, a empresa tem registrado maior procura por modelos urbanos, micro-ônibus e de fretamento. Já os rodoviários estão com demanda bem inferior ao habitual.

Autor: Cleide Silva
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