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Uma velha ideia
Em um curto período histórico o capitalismo engendrou um processo de grande regressão das conquistas civilizacionais da humanidade, após o fim da União Soviética e com o fortalecimento da hegemonia brutal do capitalismo, se impôs ao mundo a chamada sociedade de consumo.
A implementação do neoliberalismo não trouxe somente danos econômicos às nações. A dominação ideológica em torno de um pensamento uniformizado, difundido pelos grandes meios de comunicação em todo o mundo, traduzido nas mais variadas áreas, é sem dúvida uma das maiores regressões que o grande capital impôs. Nas últimas décadas, ao povo foram negadas a política e as alternativas de sociedade, substituindo o conceito de cidadão pelo de consumidor.
A crise do capitalismo, com suas consequências em todo o mundo, com profundo desemprego e empobrecimento das pessoas, enquanto uma ínfima minoria no sistema financeiro acumula impensáveis níveis de riqueza, aprofundou os questionamentos e a repulsa dos povos à dominação capitalista em sua face globalizada e financeira.
Entretanto, os efeitos sociais e culturais do ideário do liberalismo, em que “não existe sociedade, apenas indivíduos”, da busca da felicidade como expressão do sucesso individual, da competição e do rebaixamento da solidariedade, gestaram nas sociedades profundos distúrbios e o enfraquecimento do que em outros tempos consideraríamos como tecido social, ou mesmo o conceito de nação.
No Brasil, no período dos governos Lula e Dilma, em que ocorreu expansão econômica e forte inclusão do acesso ao consumo de camadas da população, antes excluídas, pudemos verificar o receio, ou mesmo a repulsa, de setores da sociedade contra a “inclusão” dos mais pobres. O caso dos “rolezinhos” em que jovens da periferia “invadiam” os shoppings para passear, foi bastante ilustrativo.
Os jovens da periferia que viram suas famílias melhorarem de vida naqueles anos, que passaram a consumir mais, eram como todos os outros jovens, estavam em busca da felicidade. E onde poderiam encontrá-la em uma sociedade de consumo se não no ato de consumir?
Entretanto, não há espaço para todos na sociedade de consumo criada pelo neoliberalismo, porque nela a renda é concentrada, só alguns têm o direito de consumir, os outros devem, mas não podem. Os rolezinhos ocorreram em um Brasil que gestava otimismo, em que o desemprego era menos da metade do atual. Hoje, em profunda crise econômica e social, caminhamos na direção dos distúrbios, como os que ocorreram em Londres no ano de 2011.
O Brasil precisa urgentemente de um projeto nacional, voltado ao desenvolvimento econômico e social do país, que arranque as raízes que o ideário neoliberal fincou, não apenas no terreno econômico. É preciso ganhar consciência, superar o pensamento individualista e principalmente, é preciso resgatar a velha ideia de que é possível e necessário lutar por um mundo melhor.
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