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UCPM

13/01/2019
UCPM

No meado dos anos 50, Maceió vivia uma época áurea de tranquilidade e cultura, a cidade com boa qualidade de vida, parecia uma enorme família.

Nós adolescentes formávamos turmas (hoje galeras) para brincadeiras, jogos, festas de rua, onde se torcia veementemente no pastoril pelo azul ou encarnado, ou nos campos por CRB ou CSA.

Turma da Praia da Avenida, da Praça Deodoro, da Praça Sinimbu, do Gramado da Pajuçara, da Praça Rayol, do Farol, entre outras. Todas tinham um time de futebol. Era grande a rivalidade entre os jovens nos jogos, nas festas, nos clubes e nas namoradas. Contudo, todas as turmas convergiam para as mesmas praias: Avenida ou Pajuçara; mesmos clubes: Fênix, Iate, Portuguesa ou CRB; mesmos colégios: Diocesano, Liceu, Guido ou Batista. O que resultava numa integração de amizade. Todos se conheciam na província de Maceió.

Palmeira era o time de futebol do Farol, de grande rivalidade com o Avenidense, time dos que moravam ou frequentavam a praia da Avenida da Paz. Eu como morador, diretor do time e filho do coronel comandante do 20 º BC tinha oportunidade de jogar aos sábados no campo de futebol do Exército. Talvez por isso, eu era titular absoluto com a camisa 8 do time, mesmo sendo um medíocre jogador de futebol.

Pertencia a turma da Avenida da Paz, mas tinha meus chamegos pelo Farol, o bairro mais aristocrático da cidade. Certa época eu namorava uma bela morena na Praça Centenário. Depois do jantar subia de bicicleta a Ladeira da Catedral pedalando até quando podia; terminava andando, empurrando a bicicleta pelo “guidón” parava num banquinho da Praça.

Minha namorada era gêmea. Um dia sua irmã veio me avisar que a irmã estava doente, mas na hora resolveu tomar seu lugar. Andei pelas ruas do Farol sem perceber, sem saber que dava uns cheiros, alisava, beijava a irmã da namorada.  Tornou-se um segredo de cunhada.

Certa noite, no Parque Gonçalves Ledo, encontrei um dos amigos do peito que tenho até hoje. Depois de um papo informal e ameno, sobre meninas, futebol e festas, ele convidou-me para reunião de uma associação que a turma do Farol tinha fundado com muita imaginação e bom humor.

Assisti a reunião, gostei, fui aprovado e tornei-me sócio da UCPM – União dos Conquistadores de Piniqueira de Maceió.

Tinha regulamentação. Havia uma escala hierárquica. Os sócios para ganhar pontos e patentes relatavam as aventuras, as conquistas com as empregadas domésticas que nós chamávamos maldosamente de piniqueiras; naquele tempo havia pinico. Conforme o tipo da aventura e o número de conquistas, ganhava-se pontos e promoção aos postos dentro da hierarquia, como se fosse militar.

Não consegui chegar a tenente na UCPM. Havia alguns amigos mais dedicados. João foi galgado ao posto de Marechal por merecimento, o único, tipo Rei Momo. Este posto tornou-se cargo privativo; era o comandante, chefe geral.Apenas dois associados conseguiram promoção até general. Por coincidência, esses dois generais da UCPM, moram hoje em Brasília. Ambos têm altos cargos nos poderes.

Naquela época namorada era só para beijinhos, abraços, e no máximo mão naquilo. Aquilo naquilo, dava cadeia ou casamento. As meninas conservavam sua virgindade lutando bravamente. Quando dava 10 da noite a namorada voltava para casa, até por medo de ficar falada na boca das desocupadas solteironas. Nós pobres mortais jovens, saíamos excitadíssimos do namoro. A solução era descarregar nas profissionais dos casarões de Jaraguá, em casa sozinho, ou ir à cata das empregadas, gentis e amadas.

Elas eram de muita alegria e bem bonitas. Geralmente morenas do interior, do sertão nordestino, aonde a seca matava as famílias. As moças vinham para a cidade em busca da melhoria de qualidade de vida. Por serem analfabetas, e pela falta de emprego, tinham dois caminhos: a prostituição ou ser empregada doméstica. Eram sempre cheirosinhas, saíam das casas perfumadas, em busca de amor e carinho. Naquela época não havia o politicamente correto.