Artigos

Assessor Imprescindível

09/12/2018
Assessor Imprescindível

Marcos Valério faz festa quando avista um conhecido, é um dom natural sua simpatia contagiante. É um grande equilibrista, há mais de 30 anos consegue permanecer em cargos comissionados. Sai governo, entra governo, ele continua com sua sinecura estadual, com esse cargo educou e sustentou a família e os filhos, a quem ama tanto.

Durante a campanha eleitoral entrega-se de corpo e alma, se gaba que nunca perdeu uma eleição, já fez campanha para vários políticos, todos foram eleitos, é pé quente. Atualmente é assessor de um deputado campeão de votos e de acordos; o lava-jato está de olho nele.

Marcos é chegado à boemia, ama a época eleitoral quando viaja e farreia muito. Apaixonado por Dona Tereza, sua mulher, mandona e braba que o mantém no cabresto. Porém, ele sempre tem uma desculpa de trabalho ou viagem ajudando o deputado.

Acontece que o nobre deputado é viciado em mulher e Marcos Valério seu intermediário contato com as garotas de programa. Administra as farras do deputado, com esmero e carinho. É o secretário-tesoureiro particular para assuntos sexuais, aliás, essa é a ocupação principal de nosso amigo, só comparece à repartição para pegar o contra cheque. Seu trabalho é organizar as farras do deputado nas viagens ou na casa da praia de Riacho Doce que o chefe mantém, com mais dois colegas, só para orgias.

Marcos na campanha eleitoral é pau para toda obra, no interior abre os caminhos com sua maneira de tratar os mais simples, identifica-se com o homem do sertão no linguajar. Nascido em Girau do Ponciano, município progressista do agreste alagoano, veio para capital ainda jovem, os pais pobres ficaram no interior, ele se virou sozinho na capital. Arranjou um emprego em um comitê durante a campanha eleitoral, daí por diante tomou rumo na vida.

Conhece todos os políticos de Alagoas, seja deputado, prefeito, senador ou governador, todos falam com Marcos Valério com intimidade, figura muito querida e até respeitada por ser também um arquivo vivo, sabe histórias da política alagoana ouvidas e vividas nas festinhas que organizou, porém, é discreto: Não ouve, não fala, não vê.

– Na última campanha eleitoral, alguns candidatos desembarcaram num sábado na belíssima cidade de Piranhas pouco depois de meio-dia, estacionaram os 6 ou 7 carros para almoçar em um restaurante à beira do Rio São Francisco, uma bela paisagem: água esverdeada descendo o Velho Chico. Juntaram algumas mesas à beira da praia. Do outro lado do rio pequenos morros completavam a cena sertaneja. Enquanto preparavam a peixada, a cerveja rolou com boas conversas, havia tempo suficiente pela programação, na parte da tarde estavam marcadas algumas visitas e à noite um grande comício. Os candidatos bebericando, ouvindo um senhor com mais de 70 anos contar histórias de Lampião, era ex cangaceiro sabia tudo, pormenores da emboscada, em Angicos do outro lado do Rio, em Sergipe, onde mataram Lampião. Na hora do almoço o deputado dizia-se entediado:

– “Estou há mais de uma semana no sertão em campanha, é estafante, e o pior, não comi ninguém nesses dias. Estou doido por uma rapariga.”

Olhou para seu auxiliar predileto e ordenou em tom de gozação:

– “Marcos Aurélio, vá agora para Maceió e traga um caminhão de garotas de programa”

A moçada caiu às gargalhadas com o bom humor do deputado. Quando o almoço chegou, todos se refestelaram, peixe ao coco e fritada de pitu.

À noite a praça cheia, gente de todo canto chegava em caminhões. Comício ainda é uma grande distração para o povo no interior.

No palanque abarrotado de gente havia abastecimento de cerveja e uísque. Já no final do comício, Marcos Aurélio se aproximou e falou com entusiasmo ao deputado.

“-Pronto chefe, missão cumprida. Não deu para trazer um caminhão, mas trouxe de Maceió seis garotas de primeira qualidade em dois carros. Gastei o dedo no telefone. Estão todas no carro, quero saber onde elas vão ficar.”

O deputado deu uma bela gargalhada e pediu a um magnata-empresário para ensinar os caminhos até sua casa à beira do Rio São Francisco.

Na mansão havia um jardim gramado cheio de coqueiros, árvores e uma piscina. Da sacada se avistava o Velho Chico, era noite de lua, ficou fácil para brincar de “pega”. As garotas bem à vontade, tinham que se esconder na área do jardim, depois de gritar, AGÚ, os homens iam à caça, e se entendiam na praia do rio. Finalmente todos mergulharam na piscina. A festa foi até o dia amanhecer. No domingo o deputado estava feliz contando as histórias, com os braços nos ombros de Marcos Valério, repetia.

– “Você é um assessor imprescindível”.