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Ana do Canaã
No sugestivo ano de 1969, as boates de mulheres do bairro boêmio de Jaraguá foram transferidas para uma região longe do Centro de Maceió, tornou o bairro do Canaã.
Segundo a lenda, numa bela manhã de um verão, a esposa de um Secretário do Estado, moradora da praia da Pajuçara, tomou rumo ao mercado da Levada às seis horas da manhã. Ao passar no trecho da Rua Sá e Albuquerque no bairro boêmio de Jaraguá onde ficavam os cabarés bem concorridos, a distinta senhora tomou um susto, ficou chocada ao ver a cena, um bêbado retardatário depois de descer a escadaria do cabaré, com a bexiga apertada, tirou o maranhão para fora e descontraidamente fazia xixi no meio fio da calçada, em frente à Boate Alhambra.
Horrorizada com a cena, ficou perturbada com o tamanho, foi ao mercado pensando somente naquela visão matinal. Ao chegar em casa contou o fato ao poderoso marido. Nesse mesmo dia foi publicada uma portaria do Secretário de Segurança determinando o fechamento de todos os cabarés de Jaraguá, dando um prazo de 60 dias para mudança, tendo a única opção a região onde situava o loteamento chamado de Canaã.
As inquilinas das casas, jovens formosas, caíram no choro, pensando no desemprego Houve muitos pedidos de deputados e outras autoridades, frequentadores assíduos, clientes da melhor espécie, mas o Secretário, com apoio do governador foi inclemente. Em 60 dias não funcionavam mais os lupanares em Jaraguá.
Os empresários do amor tiveram que transferir-se em pouco tempo. Alguns se instalaram provisoriamente. O dono da noite da cidade, o famoso Mossoró comprou uma casa na região, restaurou e inaugurou a mais badalada casa de mulheres do Estado, a Boate Areia Branca, fez história na boemia alagoana nos anos 60/70.
Entre os empresários, donos de cabarés, havia uma mulher, Ana, respeitada pela valentia, Era baixinha, troncuda, cara de índia, sem muita conversa, e disposta. Ficou na história do povo, contada por muitos anos, a valentia de Ana quando acabou uma briga entre dois homens em seu cabaré, ela puxou uma peixeira de 7 polegadas, os dois briguentos se soltaram cada um para seu lado respeitando o brilho da peixeira e a ordem de Ana: “Acabem essa briga!”
Ana arranjou uma casa no Canaã onde instalou suas belas mulheres. Era uma casa antiga, na entrada um belo portão de ferro batido, feito artesanalmente, em desenhos arabescos.
Certa vez o jovem Cacau, acompanhado pelos amigos Sidrack e Canhoto bateram à porta da casa de Ana por volta de duas horas da manhã. A zona já estava fechada, Ana mandou dizer que não abria o cabaré, suas funcionárias precisavam descansar, tinham trabalho pesado no outro dia. Jovens não se conformam com um não. Os três insistiram, bateram palmas, chamaram algumas mulheres conhecidas pelo nome. De repente a Ana apareceu, braba, com as mãos nos quadris mandou os jovens desaparecerem, não abriria o cabaré de maneira nenhuma. Como o portão de ferro estava na corrente e cadeado, Cacau resolveu abrir à força, teve a infeliz ideia em puxar o portão com uma corda amarrada no jipe. Ele havia bebido, estava louco para ver Genoveva Brotinho, sua namorada namorava. Naquela época, prostitutas tinham namorados.
Cacau amarrou a uma ponta da corda no portão, a outra no para-choque traseiro do jipe, arrochou até ficar bem seguro. Aboletou-se no assento, os amigos ajudavam a operação da abertura do portão, preparados para entrar na casa e encontrar as raparigas.
Cacau ligou o carro, engrenou a primeira marcha de força, acelerou o jipe puxando o portão, esperando abri-lo. Quando, de repente, ouviu-se um estalo forte, o portão foi arrancado, e puxou toda parede da frente da casa que foi se desmoronando até formar um monte de entulho no chão.
Quando sentiu o estrago, Cacau gritou para os amigos, eles subindo no jipe sem capota e fugiram em velocidade, arrastando no chão o portão da casa que batia no calçamento tirando faíscas e fazia barulhos metálicos A certa altura, Cacau parou o jipe, desamarraram o portão, deixando-o à beira da rua. No dia seguinte souberam que Ana prometeu vingança. Passaram mais de um ano sem frequentar os cabarés do Canaã, com medo da valente Ana.
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