Variedades

‘De Pernas Pro Ar 3’ trará novos dilemas femininos

28/05/2018

Repleta de cenas cômicas, a franquia de filmes “De Pernas Pro Ar” – que conta trajetória de uma executiva que virou empresária de sucesso no mercado de produtos eróticos após um orgasmo intenso – também aborda assuntos sérios. Atualmente em produção, com sequências no Rio e em Paris, o terceiro longa traz uma discussão sobre o papel da mulher no mundo do trabalho e na família.

Na continuação, Alice Segretto (Ingrid Guimarães) tem filiais do sex shop Sexy Delícia por todo o mundo, porém, ao perceber que se distanciou da família, entra em crise. A protagonista decide, então, deixar os negócios nas mãos da mãe, Marion (Denise Weinberg), para dedicar mais tempo ao marido, João (Bruno Garcia), ao filho, Paulinho (Eduardo Melo) e à nova herdeira, Clarinha (Duda Batista). Entretanto, a workaholic não consegue desapegar totalmente da função.

“A mulher está sempre se sentindo dividida entre a família e o trabalho. Se ela é bem-sucedida, então, é muito julgada por todos. A sociedade julga e ela se culpa”, analisa a diretora Julia Rezende. “O preço da mulher independente é alto. Aqui no set, todo mundo corre para ir para casa ver os filhos ou os traz para cá”, revela Ingrid, que recebeu o Estado num intervalo das filmagens e confessa já ter pensado em dar um tempo da profissão. “Não é exatamente parar, mas sempre quis fazer um curso de culinária, ficar dois meses viajando, morar em outro país”, conta.

Depois de dois longas que acumularam mais de 8 milhões de espectadores, a continuação tem, pela primeira vez, uma diretora. Assistente do cineasta Roberto Santucci nos filmes anteriores, Julia comanda uma equipe com mulheres em funções estratégicas da equipe.

Além das duas assistentes de direção, a câmera principal é operada por uma mulher e a produção é assinada por Mariza Leão (“Meu Nome Não é Johnny”), idealizadora da franquia. Escrito por Marcelo Saback e Renê Belmonte, o roteiro passou pelas mãos de Ingrid.

No processo do roteiro, os autores reconheceram que nem sempre retratam devidamente a alma feminina e dividiram o trabalho com a atriz e a diretora. “Em um momento, disseram: ‘escrevam vocês’. Os outros filmes foram escritos e dirigidos por homens. Eles não têm esse olhar, mas não é uma questão de machismo. O machismo é tão natural tanto para o homem quanto para a mulher que ele não tinha essa visão”, reconhece.

Algumas das mudanças no texto partiram do olhar de Samya Pascotto, atriz de 25 anos que interpreta Leona, uma jovem concorrente de Alice no mercado erótico que acaba em outra rivalidade ao se envolver com o filho da protagonista. A paulistana percebeu tons sexistas no roteiro e foi convocada para reescrevê-lo.

“Os meninos têm um aval da sociedade de serem seres sexuais, as meninas não. Poder ter a minha idade e ser escutada em uma sala de criação é uma conquista de tudo o que está acontecendo em Hollywood e no mundo”, afirma Samya, que levanta a bandeira do feminismo e, mesmo com uma criação evangélica, participa ativamente de discussões sobre a questão feminina, além de ter frequentado manifestações contra a criminalização do aborto: “Já levei porrada e gás de pimenta”.

A jovem artista diz já ter ouvido comentários machistas e sobre seu corpo em diferentes filmes e séries. “Quando há homens e mulheres trabalhando juntos por trás das câmera faz toda a diferença. Acho que os homens estão um pouco com medo. Quando você vê que seu privilégio está sendo questionado você vai parando”, acredita.

Ingrid Guimarães faz coro. “É a primeira vez em que trabalho em um filme em que a câmera e direção são femininas. É impressionante como nos sentimos confortáveis. A diferença está principalmente nas cenas de sexo, de camisola. Você está ali e a pessoa da câmera está dizendo algo (e sinaliza com as mãos que é para a atriz se ajeitar ou movimentar)”, avalia a protagonista. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: João Fernando, especial para AE
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