Variedades
Lollapalooza promove música eletrônica e sedia edição das mais politizadas
Os tons que devem marcar o Lollapalooza de 2018 foram dados nesta sexta-feira, 23, primeiro dia do festival que segue até domingo, 25, no Autódromo de Interlagos, na zona sul de São Paulo. Será uma temporada de discursos de protestos e afirmações como não se vê há tempos sobretudo dos grupos brasileiros. A música eletrônica foi promovida, ganhando uma área muito mais privilegiada em localização e tamanho. E as atrações nacionais se impõem com mais força.
Um dos grandes destaques entre os internacionais foi Chance, The Rapper. Nome dos mais representativos da nova geração, fez um show intenso, com uma pegada que transporta o hip-hop ao gospel. Sua música é jovem, atual e contestadora, e ele sabe usar bem os recursos vocais. De repente, tudo pareceu mais difícil para os headliners Red Hot Chili Peppers, que fechariam a noite.
Na sequência, James Murphy trouxe o LCD Soundsystem, descumprindo a promessa de término da banda há sete anos. Veio com a anarquia do punk transportada em beats eletrônicos, berros, sintetizadores, calmaria e pedidos de socorro.
O Red Hot Chili Peppers entregou o que prometeu no palco Bud. Otherside, balada do disco Californication (1999), trouxe recordações da geração teenager 2000. Kiedis ainda mostra uma voz potente, apesar do abuso de drogas e álcool, e esbanjou vigor físico e musical em quase duas horas de show. A surpresa da noite veio do guitarrista Josh Klinghoffer, que fez cover de Jorge Ben Jor e cantou Menina Mulher da Pele Preta.
A indignação foi marca de Rincon Sapiência. “Marielle presente!”, disse o rapper no Bud, no meio da tarde. Se em 2017 Rincon ficou no topo de várias listas de melhores do ano com Galanga Livre, uma exploração livre entre o rap e o afrobeat, em 2018 vem colhendo com juros os frutos de anos e anos de dedicação à música nacional. “Já ouviu falar em pobreza? Ela não morreu”, canta em Ostentação à Pobreza. “Isso aqui é um decreto: se a coisa tá preta, é que a coisa tá boa”, diz, antes de A Coisa tá Preta.
No meio do show, chamou Iza, duas estrelas da música brasileira contemporânea. “Esse é um país de alto índice de genocídio preto, isso acontece nas periferias comumente. É um indicador de que algo precisa ser mudado, certo?” Antes de Ponta de Lança, falou mais: “Se alguém disser que o rap não tem nada a ver com Lolla, eu digo: ahn, ahn, ahn… não tô entendendo nada!”.
Já no palco Onix, Fernanda Kostchack, violinista do Vanguart, surgiu no começo da tarde com uma regata branca estampada com a frase “contém feminista”. Posicionamento efetivo, necessário. Banda com mais de 15 anos de estrada, o Vanguart expressa a maturidade de um grupo que já correu o País e sabe o que encontra fora do eixo Rio-São Paulo. São incisivos ao pedir por amor nas suas canções e ao gritar “Marielle Presente”.
É bonito ver como a música alternativa brasileira tem sido capaz de saltar as barreiras estabelecidas por um sistema que privilegia os artistas massivos. Luneta Mágica e Plutão Já Foi Planeta deram seu suor. Receberam palmas e ovações.
A começar pela Luneta Mágica, que foi capaz de fazer com que os termômetros acima dos 30ºC fossem ignorados pelos poucos – porém fiéis – fãs que chegaram ao festival ainda cedo. Às 12h, já estavam no palco Onix, com seus dois discos como repertório e um convite ao derretimento, com seus vocais alongados e dobrados, loopings e uma candura psicopop.
Carlos Eduardo Miranda, que morreu aos 56 anos, trabalhava com o grupo para o terceiro disco. “Miranda, esteja bem onde você estiver”, gritou Erick Omena, vocalista e guitarrista da banda. Plutão Já Foi Planeta encontrou um número maior de fãs. Com Rashid, na música Insone, eles trouxeram uma porção de rap mais incisivo em sua performance. Golaço. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Autor: Guilherme Sobota, João Paulo Carvalho, Julio Maria e Pedro Antunes
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