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Após crise, BTG prioriza América Latina

12/03/2018

O BTG Pactual vai definir nos próximos meses se vai se desfazer da participação de 30% que ainda mantém no banco suíço BSI, vendido há quase dois anos para EFG International, um grupo de gestão de fortuna sediado em Zurique, apurou o jornal O Estado de S. Paulo. O discurso do banco de investimento é concentrar esforços na América Latina.

A venda do controle no banco suíço e de outros importantes ativos – entre eles, carteiras bilionárias de créditos – fez parte de um pacote de medidas emergenciais adotadas pelo BTG para conter a crise deflagrada após a prisão do seu fundador, André Esteves. Durante a turbulência, o banco se desfez de R$ 20 bilhões em ativos.

As decisões tomadas pelo BTG foram consideradas um caso de sucesso no mercado financeiro. Poucos dias depois da prisão de Esteves, os sócios do banco conseguiram levantar R$ 6 bilhões com o Fundo Garantidor de Crédito (FGC), empréstimo que já foi pago.

Agora, com cerca de R$ 12 bilhões em caixa, o banco planeja retomar o movimento de expansão, segundo fontes próximas ao banco. No foco, estão as áreas de gestão de ativos de terceiros (“asset management”) e de fortuna (“wealth management”); tesouraria e corretagem; e crédito. A área de fusões e aquisições também é prioridade.

O banco de investimento do BTG já voltou a incomodar os principais rivais no ano passado. Após quatro anos, retornou ao topo em transações de fusões e aquisições, segundo dados da consultoria Dealogic. O Itaú BBA ficou em segundo lugar.

Há quase duas semanas, ao divulgar os resultados de 2017, o presidente executivo do BTG Roberto Sallouti disse em conferência a analistas que o banco deverá ampliar a concessão de crédito a grandes empresas, impulsionada pela retomada da economia. O BTG encerrou o quarto trimestre com carteira de R$ 21,8 bilhões, ante R$ 29,8 bilhões nos mesmos meses de 2015. A intenção é aumentar de R$ 4 bilhões a R$ 10 bilhões o volume de créditos.

Desafios

Passados dois anos de sua maior turbulência, o banco está mais enxuto e conservador. Mas quer ganhar relevância na plataforma digital, a exemplo do que já faz a XP Investments, referência no setor e que tem o Itaú como sócio.

A postura agressiva deu lugar à cautela. Fontes ligadas ao BTG afirmam que o banco não pretende ter mais participações diretas em empresas. Todos os investimentos neste sentido serão feitos por meio da área de “asset management”, que terá recursos de terceiros. Nada impede, no entanto, que os sócios do BTG possam colocar recursos próprios nos fundos geridos pelo banco.

Após ter se desfeito de vários ativos proprietários, entre eles o hospital Rede DOr, a Recovery (de carteira de crédito), Equatorial Energia, BR Properties, entre outros, o BTG ainda tem nas mãos a Petro África, joint venture com a Petrobras, motivo de dor de cabeça. O banco foi suspeito de ter sido beneficiado ao comprar a fatia no negócio em 2013. Até o momento, nada foi apurado. A Petro África foi colocada à venda pelos dois sócios.

Retorno de clientes

Entre os principais desafios do BTG está convencer boa parte dos clientes que tirou o dinheiro do banco a voltar. André Esteves tem conversado, muitas vezes pessoalmente, com os ex-clientes. Um importante investidor ouvido pelo Estado na semana passada disse que chegou a sacar todo o seu dinheiro no período mais agudo da crise do banco; mas, agora, tem voltado aos poucos, conforme a poeira vai baixando.

Saída

Os acionistas do alto escalão do BTG Pactual, reunidos no G7, núcleo duro do banco, que se tornou o controlador após a saída de André Esteves, estão concluindo a compra da participação de seus principais sócios.

O presidente do conselho do banco Marcelo Kalim, que está entre os maiores acionistas do BTG – depois de André Esteves e ao lado de Roberto Sallouti – deverá deixar a presidência do colegiado até o fim do ano.

Ex-presidente do conselho da instituição, Persio Arida saiu do negócio no ano passado para se dedicar à política (o economista trabalha no plano de governo de Geraldo Alckmin). Kalim está montando uma fintech e o banco avalia se vai ser sócio do negócio. Procurados, Kalim e BTG não comentam. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: Mônica Scaramuzzo
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