Variedades

Municipal abre temporada com a monumental ‘Sinfonia nº 8’ de Gustav Mahler

02/03/2018

Três corais – que se dividem, em certas passagens, em 12 grupos menores; um coro infantil; uma orquestra de mais de cem músicos, no palco e fora dele; oito cantores solistas. Não foi por acaso que a Sinfonia n.º 8 de Gustav Mahler acabou sendo apelidada de Sinfonia dos Mil. E é ela que abre nesta sexta, 2, e sábado, 3, a temporada sinfônica do Teatro Municipal de São Paulo, sob regência do maestro Roberto Minczuk, que enxerga a obra como “a mais grandiosa sinfonia já escrita”, símbolo de um fervor espiritual.

“O que Mahler faz nesta sinfonia é provar ser possível escrever uma obra-prima de dimensões gigantescas, mas, ao mesmo tempo, reconhecida pela estrutura, pela recusa do simples efeito. Não é uma peça de celebração, carrega enorme complexidade”, diz o maestro. “É preciso estar atento ao fato de que a sinfonia também tem pureza, passagens camerísticas, de diálogo sutil entre solistas e orquestra. E de que é necessário conseguir uma unidade. É esse cuidado que muitas vezes falta na leitura da obra.”

Desde seu resgate, nos anos 1950, as sinfonias de Mahler, escritas na passagem do século 19 para o século 20, tornaram-se tão fundamentais quanto as de Beethoven para orquestras sinfônicas. Interpretá-las é, de alguma forma, afirmar certo desejo de maturidade musical.

Ao longo de março, para se ter uma ideia, cinco das suas dez sinfonias serão interpretadas por grupos brasileiros. Neste domingo, 4, as Orquestras de Heliópolis tocam, também no Municipal, a n.º 6; na semana que vem, a Osesp abre o ano com a n.º 7. E as sinfonias n.º 1, n.º 2 e n.º 5 estão previstas em concertos no Rio de Janeiro, em Santo André, Brasília e Salvador.

Mahler, ao dizer que cada sinfonia deve ser como o mundo, “abarcar tudo”, tinha a Sinfonia n.º 8 em mente. A obra se encerra com uma recriação da cena final do Fausto, de Goethe, tratando de temas como o amor como princípio de redenção e a purificação da alma que permite o renascimento em uma existência pós-morte, nas palavras de seu biógrafo Jens Malte Fischer. Mas, como afirmaria o maestro Bruno Walter, todas essas reflexões se dão imersas em profundas interrogações e ansiedades.

“Mahler está falando daquilo que faz com que o ser humano procure uma igreja, ou seja, a crença na redenção humana. É essa possibilidade que faz com que as pessoas reconheçam a necessidade do espiritual, do infinito, de um mundo melhor. A ideia fundamental em toda a obra me parece ser acreditar na redenção do ser humano e isso é de fato o que todo mundo busca hoje. Não é por acaso que a maior parte dos filmes de Hollywood que hoje fazem sucesso trata disso”, afirma ainda Minczuk.

Para o maestro, Mahler com certeza conhecia adaptações de autores como Berlioz ou Gounod para o texto de Goethe. “Mas ele foi o compositor mais capaz de sua geração. Sua linguagem é mais rica. Ele tinha uma linguagem maravilhosa, de espiritualidade transcendente.” É por isso, diz Minczuk, que se sentiu atraído pela história de Fausto, “que nos fala dos dilemas do nosso dia a dia, da importância de resistir às tentações e não render-se ao mal”.

Entre os solistas dos concertos em São Paulo, estão as sopranos Gabriella Pace e Rosana Lamosa, as meios-sopranos Ana Lucia Benedetti e Denise de Freitas, o tenor Fernando Portari e os baixos Licio Bruno e Savio Sperandio.

ORQUESTRA SINFÔNICA MUNICIPAL
Teatro Municipal. Pça. Ramos de Azevedo, s/nº, tel. 3053-2090. 6ª (2), 20h; sáb., 16h30. R$ 30/ R$ 80.

Orquestras de Heliópolis tocam Sinfonia nº 6

Outros grupos também abrem neste fim de semana suas temporadas. As Orquestras de Heliópolis mantêm a tradição de iniciar o ano com uma sinfonia de Mahler, desta vez a de nº 6, que o próprio autor considerava sua obra mais enigmática. A regência é do diretor artístico e especialista no autor Isaac Karabtchevsky e o concerto acontece na manhã de domingo, dia 4, no Teatro Municipal de São Paulo.

No sábado à noite, 3, com repetição no domingo à tarde, a Orquestra do Teatro São Pedro recebe o maestro Neil Thomson para um programa com a Sinfonia nº 1 de Prokofiev e trechos da ópera Carmen, de Bizet, com o tenor Paulo Mandarino e a meio-soprano Luciana Bueno.

E, no sábado, a Orquestra Sinfônica da USP sobe ao palco da Sala São Paulo sob a regência de Roberto Tibiriçá, que substituiu o maestro Ira Levin, que cancelou a viagem ao Brasil por motivos de saúde. No programa, destaque para a Sinfonia nº 3 de Brahms e o Concerto nº 19 de Mozart, com Eduardo Monteiro.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: João Luiz Sampaio, especial para a AE
Copyright © 2018 Estadão Conteúdo. Todos os direitos reservados.