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O convertido

25/02/2018
O convertido

Desde cedo Pedrinho foi chegado à mulher. Menino ainda gostava de brincar de médico com as primas. Era o doutor. Certo dia Tio Alberto pegou-o fazendo massagem na priminha, foi escândalo na família. Durante a adolescência vivia à cata de empregadas domésticas. Elas gostavam de serem assediadas por aquele frangalho com lábia bonita e enganadora. Adulto encontrou-se novamente com as primas, que eram muitas, nas festas, nos clubes, nas praias. Namorou todas as primas possíveis. Gostava de afirmar: “priminha não é irmãzinha”.

Quis o destino que casasse com uma prima, Maria de Lourdes, criada no sertão com leite de cabra, disposta e ciumenta. Ela adorava o bigodinho à lá Clark Gable de Pedrinho. Sempre teve adoração pelo marido com pinta de galã do cinema mudo.

Nosso herói casou-se com muito respeito e medo de Lourdinha. Ele fazia suas estripulias bem escondidas. Porém, a paixão e o ciúme da esposa, impeliam uma marcação cerrada. Ela descobriu alguns indícios no bolso de paletó do marido, deu briga e discussão.

Pedro nunca foi de deixar as coisas acontecerem, sua imaginação funcionava, inventava viagens e reuniões para ter nos braços alguma mulher, geralmente de programa. Para ele não interessava, fosse mulher, bastava.

No início do ano, num aniversário, Pedro conheceu uma morena, Rosa, mulher bonita e vistosa, quarentona, com todas as carnes no lugar. Era de Olinda, muito divertida. Rosa dava suas opiniões bem avançadas, achava o casamento enfadonho, já passara por dois. Afirmou que na vida para valer todos nós somos solteiros, ninguém é dono de ninguém. Deu vários discretos olhares para Pedrinho, ele estremeceu na cadeira ao perceber aquela mulher esplendorosa se escancarando para ele.

Na saída, Pedro conseguiu entregar um cartão de visita à Rosa, falando-lhe discretamente, “telefone-me”.

 Em casa, antes de dormir, Lourdinha comentou que Rosa tinha cara de piranha, estava se oferecendo aos homens da festa. Ainda bem que não havia dado em cima de seu querido marido.

Na segunda-feira Pedrinho trabalhava no escritório quando recebeu um telefonema de Rosa. Ele quase explode de alegria. Conversaram algum tempo e marcaram para 3 da tarde, defronte ao Memorial Teotônio Vilela na praia de Pajuçara.

Ele não atrasou um segundo, a 100 metros percebeu a morena de vestido vermelho rodado. Parou o carro, ela entrou e sentou-se cruzando as pernas. Seguiram direto para o motel. Pedro não se apaixona pelas mulheres, gosta simplesmente de ter o prazer em estar com elas, de flertar, de transar. Acha mulher a criatura mais sublime do planeta. E uma aventura com uma morena daquela categoria, era a Glória.

Rosa era extremamente divertida, ainda passou alguns dias na cidade, quando podia, saía com Pedro. Convidou-o a passar o carnaval no Recife, aliás, em Olinda onde ela morava. Ele iria conhecer o melhor carnaval do mundo. Deu-lhe o telefone de sua casa.

Pedro ficou matutando, fugir para Olinda era muito difícil. Faltavam 20 dias para o carnaval quando ele leu num jornal uma propaganda de um retiro espiritual religioso no Litoral Sul de Pernambuco durante o carnaval.

Pedrinho imediatamente começou a ir às missas, e disse à esposa que um impulso inexplicável chamara-o para religião. Lourdinha, crente e temente a Deus, deu incentivo para a conversão religiosa do marido. Ao voltar do trabalho Pedrinho abria a bíblia e orava.

para homens em Pernambuco durante os quatro dias de carnaval, coisa fechada, não poderia sequer usar celular. Lourdinha espantou-se com a transformação do marido. Concordou; ela aproveitaria para visitar a família na fazenda perto de Cacimbinhas durante o carnaval. Os dois filhos, já homens, se viravam.

Pedro inscreveu-se para o retiro via Email, incluía a hospedagem num ótimo hotel.

No sábado de Zé Pereira, depois que Lourdinha partiu no carro da irmã para Cacimbinhas, Pedrinho viajou para o retiro. Conheceu companheiros, orou, saiu a caminhar com a turma. Ao cair da tarde pegou o carro e tomou a estrada rumo à Olinda. Chegou a tempo. Conforme combinado, Rosa lhe entregou uma fantasia de mascarado, saíram para a rua. O casal pulou a noite toda subindo e descendo as ladeiras de Olinda. Hospedado numa pousada discreta, passou o maior carnaval de sua vida nos braços da morena, fazendo o passo nos acordes do Vassourinhas, cantando a Evocação e o Frevo da Saudade.

Na terça-feira, depois do almoço, dirigiu-se ao retiro, sua falta foi notada por poucos, no encerramento do encontro recebeu a certidão de frequência para mostrar a Deus. Ao chegar a Maceió, sozinho, recordava o melhor carnaval de sua vida, com Rosa. Lourdinha só chegou na quinta-feira. Pedrinho vai continuar frequentando a Igreja por um tempo. O Carnaval de Olinda vale uma missa.