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A moça da janela

30/10/2017
A moça da janela

Maxwel morou a vida toda no bairro do Tabuleiro do Pinto, perto do aeroporto, aonde nasceu. Quando os filhos cresceram pressionaram o pai a se mudar para orla.

Devido aos tempos modernos, aos apelos dos filhos, à comodidade da família, finalmente Maxwel comprou um apartamento na Ponta Verde, perto da praia. Para família foi uma alegria, para ele um sacrifício. Trocou uma casa confortável de 400 m², enorme jardim de muitas rosas, orquídeas penduradas em frondosa mangueira por um apartamento de três quartos, 140 m². Mas a família acima de tudo. O casal ficou com uma suíte, a outra suíte os dois filhos ocupam ocasionalmente e um quarto foi transformado em gabinete. Colocou um computador para escrever. Agora que se aposentou do Banco do Brasil, onde passou mais de 30 anos, é hora de desfrutar a merecida aposentadoria. Pretende passar um ano de pernas pro ar, depois pensar em alguma ocupação.

Pela manhã caminha na orla, encontra amigos, fica a bater papo até às nove horas antes de tomar um bom café e ler jornais. Retorna à praia às onze horas, reúne-se com outros aposentados para falar do mundo e ficar olhando as saias de quem vive pelas praias coloridas pelo sol. Preenchem as tardes no shopping, cinemas, livraria; gosta de ler. Só depois do Jornal Nacional, Maxwel recolhe-se ao escritório, liga o ar condicionado entra no computador para pesquisar, ler jornais, enviar e-mails para os amigos e escrever. Já plantou várias árvores, tem dois filhos, agora cismou de escrever um livro narrando passagens de sua vida. De sua cadeira em frente à bancada do computador, tem uma ampla visão sobre as janelas dos apartamentos do prédio vizinho. Às vezes ele desliga a luz, para apreciar melhor o panorama.

Quando uma jovem chega por volta das 23 horas ele fica ligado enquanto sua querida Josefa, a esposa, dorme no terceiro sono. A moça é um encanto, estatura baixa, cabelos louros escorridos até o ombro, nariz um pouco achatado, lábios grossos. Seu corpo é um monumento, seios duros, pontiagudos, cintura fina. O traseiro delirantemente bem torneada e protuberante. Ela não percebeu que o espelho da porta do guarda-roupa reflete todos os movimentos no quarto.

Assim que chega, tira a roupa, enrola-se numa toalha e vai ao banho antes de dormir. A cena mais emocionante é ao sair do banho, abre a toalha, como Deus a fez, veste uma minúscula lingerie curta antes de deitar. Maxwel fica num excitamento de menino. Muitas vezes depois dessas cenas mudas, ele vai direto ao quarto, acorda sua amada Josefa, pensando na moça da janela.

Certo dia, ao cair da tarde, Maxwel pegou o carro para ir às compras no mercado. Ao longe, no ponto de ônibus, reconheceu a jovem em pé com os livros abraçados, esperando condução. Ao cruzar os olhos, ela sorriu, Maxwel freou o carro no reflexo. Perguntou sinalizando com o indicador se ela ia à cidade. A moça não se fez de rogada, entrou no carro. Como uma princesa sentou-se ao lado, a minissaia mostrava suas pernas maravilhosas. Deu boa noite, disse que ia para a Faculdade do no Farol. Maxwel mentiu, também ia para o Farol. Foram conversando amenidades, mas o coração do coroa estava disparado feito um menino. Afinal chegaram à Faculdade.

Naquela noite Maxwel ficou esperando ansioso a chegada de sua musa da janela. Compensou a espera, ao chegar, ela tirou a roupa bem devagar, deixou o coroa excitadíssimo. Na tarde seguinte, à mesma hora, Maxwel passou com o carro no ponto do ônibus e frustrou-se, ela não apareceu. Dois dias depois, ficou feliz quando a viu no ponto de ônibus. Freou o carro, ela entrou. Verônica, assim se chama, 23 anos, é mulher prática, pragmática, perdeu a mãe cedo, seu pai tem uma loja em Rio Largo. Em certo momento ela foi direta, olhando Maxwel dirigir o carro:

– Eu acho que você está me paquerando. Pensa que não percebo você toda noite na janela me olhando. Faço aquela cena de propósito. Tenho esse defeito, adoro que os homens me olhem.

Maxwel tentou se acalmar, encarou-a, e deu um sorriso largo.

– Mas menina você é danadinha hein?

– Danadinha ou danadona, vou lhe fazer uma proposta indecente e curta: transo com você, e você paga minha faculdade. Que tal? Pense. Estamos chegando, me pegue aqui mais tarde, às 9 horas, depois de minha última aula. Estou lhe esperando nessa esquina.

Maxwel parou o carro. Ela desceu, acenou com os dedos sem olhar para trás. O difícil foi arranjar uma desculpa para sair de casa as nove daquela noite. Em casa, pouco antes das oito horas ele arriscou:

– Querida, está passando um filmaço no Shopping. Topa?

Ficou esperando a resposta. Quando ela disse estar sem vontade, ele quase dava uma gargalhada de felicidade. Perguntou se incomodava de ele ir sozinho. Ela sempre liberou.

Às nove da noite Verônica se aproximou do local, ele já estava plantado, esperando.

O aposentado Maxwel agora tem mais despesa no orçamento, pagar faculdade. Feliz da vida espera as tardes das quartas-feiras para ter a moça da janela nos braços.