Política
Meirelles se alia a evangélicos e sinaliza que disputará eleições presidenciais em 2018
Os sinais de que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, será candidato ao Palácio do Planalto em 2018 têm animado o mercado e despertado preocupação na classe política. Caciques de diversos partidos acompanham com lupa os movimentos recentes do chefe da equipe econômica. Parlamentares experientes veem nele um candidato que poderia neutralizar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma corrida presidencial já que, com Antonio Palloci, foi a ancora econômica nos dois mandatos do petista.
Com o envolvimento dos principais líderes do PSDB na Operação Lava-Jato, com exceção do prefeito de São Paulo, João Doria, Meirelles teria apoio de empresários e banqueiros para conduzir as reformas necessárias para que a economia volte a crescer de maneira sustentável. “Essa candidatura depende de sinais concretos de recuperação do país em 2017 e 2018, além da queda do nível de desemprego. Sem isso, ele perde pela falta de habilidade política”, diz um parlamentar experiente.
Tanto PSD, partido de Meirelles, quanto o PMDB, do presidente Michel Temer, viram aflorar as pretensões do ministro da Fazenda quando ele inaugurou uma conta no Twitter. “Ele fala com o mercado quando quer e por meio de coletivas que convoca. No microblog, ele se dirige à população em geral, sobretudo os mais jovens que são conectados”, diz um peemedebista. A participação de Meirelles, ao lado ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho (PMDB-PA), nas comemorações do aniversário de 106 anos da igreja evangélica Assembleia de Deus também foi vista como um ato político.
Os dois receberam o título “Tributo de Gratidão” da congregação, durante evento em Belém (PA), e posaram lado a lado para fotos. Barbalho é candidato ao governo do Pará e lidera as intenções de voto, com 34,4%, conforme levantamento realizado pelo Instituto Paraná Pesquisas. A participação do chefe da equipe econômica na cerimônia não constava da agenda oficial. Segundo a Fazenda, o encontro do ministro com os líderes da Assembleia de Deus no Brasil teve carácter particular e por isso não foi divulgado.
Até os economistas e os banqueiros que têm se encontrado com Meirelles em reuniões na Fazenda percebem uma tentativa do chefe da equipe econômica de mudar o discurso técnico e focado exclusivamente na economia. “Ele tem falado muito mais de política do que de economia. Há uma mudança clara”, comentou um deles.
Desvantagens – Apesar de contar com a simpatia de políticos e do mercado, Meirelles é visto como um negociador político pouco habilidoso. Diversos caciques apontam como um erro do ministro insistir na aprovação da proposta que reonera diversos setores em meio à crise política e econômica. “É um equívoco apostar nisso. Muitos dizem que a medida trará mais desemprego. Ele não é do ramo e precisa ter um tino maior para negociar e atender os pleitos da classe política”, disse outro parlamentar.
Mesmo no partido de Meirelles, o PSD, sua candidatura é vista com ressalvas. O receio de um cacique da legenda é que um embate entre o PT, PSDB e Jair Bolsonaro poderia sufocá-lo. “Ulysses Guimarães, fiador da democracia, teve desempenho pífio nas eleições de 1989 diante do número de candidatos e não foi nem para o segundo turno. Meirelles teria de ser um nome de convergência, uma espécie de plano B”, disse.
Um economista que goza de proximidade do chefe da equipe econômica afirmou que sua candidatura teria apoio do mercado, mas só decolaria se o país voltasse a crescer. “O principal problema do Brasil é fiscal e, sem o avanço da reforma da Previdência, o rombo nas contas públicas continuará. Se fosse aprovada, teríamos juros menores e retomada da geração de riquezas. A Selic vai cair porque a inflação está baixa, mas não há recuperação da confiança”, alertou.
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