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A missão da cultura
Se faltam recursos financeiros para viabilizar o Plano Nacional de Educação, com as suas 20 metas, o que dizer do que se disponibiliza para a realização de objetivos culturais? É muito pouco e ainda por cima corre-se o risco de ser menos ainda, se a discussão em torno da Lei Rouanet concluir que ela deve ser extinta.
A má aplicação dos recursos de incentivo não justifica a medida extrema. Correções devem ser feitas, como evitar o apoio a projetos lucrativos, caso do notório Rock in Rio, em que o ingresso chega a custar 250 reais. Por que conceder mais 6 milhões de reais, via Lei Rouanet, à iniciativa?
Uma conversa no BNDES com o presidente Luciano Coutinho e o diretor José Henrique Paim foi bastante esclarecedora. Eles reconhecem que o setor de cultura possui um importante papel para a sociedade brasileira, pois além de empregar uma quantidade significativa e diversificada de mão de obra, muitas vezes trabalha com símbolos de relevância para a cultura nacional, como o patrimônio histórico nacional, ou de elevado valor agregado, como o segmento de animação.
Luciano fala com entusiasmo das indústrias criativas, que estão se tornando rapidamente um fator de geração de renda e emprego qualificado. “A animação, com um faturamento de mais de 200 bilhões de dólares, é uma importante janela de oportunidades para o Brasil.”
Ele nos conta que o BNDES atuou de forma pioneira ao viabilizar a produção das primeiras séries de animação nacional em formato comercial, para exibição em canais de televisão nacionais e no exterior. E exemplifica: “Peixonauta”, exibida em mais de 80 países; “Amigãozão”; “Escola para Cachorro” (sucesso de audiência inclusive na Argentina); “Show da Luna” (TV Pinguim), êxito do canal Discovery Kids Brasil, todos apoiados pelo BNDES em diferentes condições, também com recursos não reembolsáveis. São empresas criativas, com sustentabilidade econômica e ganhos sociais indiscutíveis.
Além da produção cinematográfica, apoiada desde 1995, há registros de incentivo a conteúdos para TV, jogos digitais (está na moda) e o setor editorial, em que o banco foi pioneiro, até mesmo estimulando a criação de editoras que depois fizeram muito sucesso. A origem foi o inesquecível Prolivro.
Pode ser citado também o empenho na construção e digitalização de salas, especialmente em municípios do interior. Mas há um carinho especial na restauração e preservação do patrimônio histórico brasileiro, constituído de mais de 1.100 bens tombados. Como é um setor de baixa rentabilidade financeira, o banco oferece recursos não reembolsáveis. Para se ter ideia da importância dessa presença, veja-se que de 2007 a 2014 o BNDES apoiou 101 monumentos tombados, agora se voltando para projetos que representavam ancoras de desenvolvimento, capazes de dinamizar o fluxo de visitação. “Quero o BNDES percebido como um importante ativo cultural” – afirmou-nos Luciano Coutinho, com uma ponta de justificado orgulho.
É claro que não se vive só de intenções. A operacionalização desses projetos se dá por meio do Procult e por editais públicos de cinema, que selecionam filmes nacionais de longa metragem em diversas categorias. Existe uma bem sucedida parceria com a Ancine, para a construção de salas em municípios e zonas urbanas consideradas prioritárias no Programa Cinema Perto de Você. Assim foram entregues cerca de 400 salas, além da modernização do parque exibidor. Temos a perfeita noção da importância desse apoio, pois há poucos anos era do nosso conhecimento, na Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, que mais de 50% dos municípios fluminenses não tinham salas compatíveis com o que se exige da modernidade tecnológica. Isso tudo no Estado que tem a capital cultural do país.
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