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A jardineira da Praça do Rosário
“Oh, jardineira, por que estás tão triste?/Mas o que foi que te aconteceu?/Foi a camélia que caiu do galho/Deu dois suspiros e depois morreu…”. Essa Marchinha de Carnaval, gravada por Orlando Silva nos anos 30, muito bem nos faz lembrar a figura magra, morena e simpática de MARIA VILEIDE DE MELO (Dona Preta), que durante mais de 20 anos adotou os jardins da Praça do Rosário (onde está instalado o Museu Xucurus), como seu local de lazer, de trabalho e de devoção. Sem possuir formatura em Jardinagem ou Paisagismo e sem ter conhecimento sobre ambientação dos espaços urbanos, Dona Preta decidiu por conta própria ornamentar os jardins da Praça do Rosário, com rosas, margaridas, crisântemos, espadas de São Jorge, sapatinho de Nossa Senhora e flores diversas, como boa noite, bom dia, gerânio, petúnia, bromélia, onze horas, etc. Plantas resistentes ao sol e sempre lindas, que atraiam borboletas e abelhas.
Dona Preta começou a adotar a Praça do Museu Xucurus no governo municipal de Maria José de Carvalho Nascimento, em 1997. Ela não esperou pela Prefeitura ou pela Secretária de Urbanismo da época para receber um “kit” com os utensílios essenciais à jardinagem e ao paisagismo (como luvas, joelheiras, carrinho de mão, tesoura de podar, tesoura corta-relva, sacho e forquilha), e nem se reuniu com os moradores da Praça do Rosário para “comprar” uma Mangueira, um Regador, uma Pá, uma Enxada, um Balde e iniciar seu serviço de jardinagem, cultivando flores no espaço urbano da Praça (onde está edificada a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, construída pelos escravos africanos no século XVIII, devotos de São Benedito).
Aliás, por ser devota de Nossa Senhora do Rosário (conhecida como Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos), Dona Preta nunca esqueceu que a Igreja Católica em estilo colonial continua existindo nesta Praça e que o Museu, ali instalado e abrigado, não revogou a “sagração” do templo religioso, que ainda hoje dispõe de peças da Arte Sacra, como a belíssima coleção de imagens de Santos dos séculos XVII, XVIII e XIX.
Como moradora da Praça do Rosário, companheira de Expedido Gomes da Silva (já falecido), ambos da cor negra, mãe de filhos e avó de netos, nunca se esqueceu da sua devoção pela Virgem Maria, nem nunca se deixou levar pelo cansaço para abandonar sua ocupação diária de plantar, replantar, cuidar, regar e apanhar folhas secas do jardim público da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, utilizando-se de objetos domésticos que possuía em sua residência, como pá, enxada, balde e mangueira. Com suas próprias condições, ela possuía tudo o que precisava para embelezar, manter limpa e florida a Praça do Rosário.
Mas, Dona Preta, aos 79 anos de idade, não teve a sorte de permanecer viva por mais tempo em nossa cidade, particularmente na Rua Manoel Moreira e Silva, em frente à Praça do Rosário, onde possuía sua moradia, mesmo tendo ótima saúde e muita disposição para trabalhar e para servir, com modéstia e ordeira como ninguém. Para ela não existia trabalho duro ou pesado, porque gostava de observar os detalhes e o gosto pelo serviço realizado.
Infelizmente, Dona Preta foi atropelada por uma motocicleta na noite da Sexta-Feira da Paixão (dia 25/03) na metade da Rua Dr. Manoel Moreira e Silva, quando voltava da Catedral Diocesana em retorno para sua casa, após ter participado da Procissão do Senhor Morto e de Nossa Senhora das Dores, distante a 100 metros da sua residência. E ela morreu em pleno Sábado de Aleluia na Unidade de Emergência de Arapiraca (AL). Partiu para a Jerusalém Celeste A JARDINEIRA DA PRAÇA DO ROSÁRIO, que cuidava das rosas, das flores e das plantas dos jardins deste logradouro público e que deixava encantados e felizes os visitantes do bairro central da cidade e os transeuntes da antiga Rua das Frutas.
Curiosamente, na tarde da Sexta-Feira da Paixão (dia 25/03) ela saiu da sua residência trajando um vestido azul marinho com bolinhas brancas, segundo o depoimento de uma das suas filhas, que a interpelou: “Mãe, a Senhora está vestida, mas está descalça?” E com espiritualidade, ela respondeu: “Assim como Jesus Cristo andou no mundo… estou descalça”. E com os pés descalços Jesus Cristo morreu na Cruz. Do mesmo modo, Dona Preta foi atropelada no asfalto e morreu com os pés descalços… Pensemos nisso! Por hoje é só.
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