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Encontro de Culturas Populares destaca diversidade brasileira

25/11/2015
Encontro de Culturas Populares destaca diversidade brasileira
Apresentação do Boi Cara Branca, de Limoeiro, durante encontro de gerações (Foto: Alejandro García)

Apresentação do Boi Cara Branca, de Limoeiro, durante encontro de gerações (Foto: Alejandro García)

Serra Talhada, no sertão pernambucano, já respira arte, diversidade e cultura no 9º Encontro das Culturas Populares e Tradicionais, aberto oficialmente na noite dessa terça-feira (24). O município dá o exemplo de que, mesmo em meio às dificuldades, as raízes artísticas do povo sertanejo sempre estarão em movimento, demonstrando força e disposição para vencer a inanição e o preconceito cultural. A noite dessa terça encantou o público, que conferiu de pertinho toda a riqueza dos grupos e artistas que se apresentaram num grande encontro de gerações, e ficará marcada como um marco no fortalecimento da política cultural em Pernambuco, no Nordeste e no Brasil.

Após a passagem de um belo cortejo de maracatus, bumba meu boi e caboclinhos pelo pátio de eventos da Estação do Forró, foi a vez de os realizadores e parceiros do projeto prestarem homenagens ao sertão e darem boas-vindas ao 9º Encontro das Culturas Populares e Tradicionais. Do palco, todos destacaram a pujança cultural que a região possui.

“A história que guarda esta região é muito importante para a constituição da cultura do Brasil, e não foi por outro motivo que o Ministério da Cultura apostou nesta ideia, apoiou a iniciativa deste encontro e hoje está celebrando um dos momentos mais bonitos que vamos viver em 2015, que é o reencontro do Brasil consigo mesmo”, destacou o diretor de Estudos e Monitoramento de Políticas Culturais do Ministério da Cultura (MinC), Pedro Vasconcellos.

Para o mestre de mamulengo Chico Simões, da Rede de Culturas Populares, Serra Talhada é hoje um exemplo para o País. “É uma cidade exemplo de dignidade, que constrói riquezas. Apesar das condições adversas de clima e da história, se mostrou valente e cangaceira, demonstrando força e energia para superar tudo isso”, frisou.

Na opinião da coordenadora-geral de Instâncias, Articulação, Pactuação e Deliberação do Sistema Nacional de Cultura (SNC) e do Conselho Nacional de Políticas Culturais (CNPC), Christiane Ramirez, a chegada do 9º Encontro ao Sertão brasileiro é fruto do desejo de compartilhar a diversidade e riqueza cultural do País. “O que nos motiva é podermos compartilhar desses momentos com todo o Brasil, o que é extrema responsabilidade. Por isso, agradeço a coragem também de todos participantes, das pessoas que estão nos bastidores e de todas as instituições artísticas aqui representadas”, lembrou.

Para a secretária da Cidadania e da Diversidade Cultural do MinC, Ivana Bentes, os sertanejos têm a capacidade de criar cultura mesmo em meio às dificuldades. “Essa capacidade é impressionante, de das dificuldades criar estéticas e linguagens. É a capacidade de transformar o mais hostil em riqueza”, destacou.

Na visão de Karl Marx, da Fundação Cabras de Lampião, o encontro é a celebração de mais de 40 anos de militância cultural de um grupo de realizadores sertanejos. “E hoje a gente celebra essa oportunidade de sediar um evento que ocorre pela primeira vez no Nordeste após uma disputa muito dura. A gente hoje celebra isso, após um intenso trabalho em rede. Hoje todos nós estamos celebrando essa construção da nova política cultural do Brasil”.

Encontro de gerações

Um dos pontos altos da noite de abertura do 9º Encontro das Culturas Populares foi o encontro de gerações, que reuniu no mesmo palco representantes das velhas e novas gerações de importantes manifestações culturais. Mestre João Paulo, 60, líder do maracatu de baque solto Leão Misterioso, de Nazaré da Mata, dividiu o pátio de eventos com Evelly Karina, de apenas 8 anos. “Essa brincadeira tomou conta do meu coração há 31 anos e eu não quero mais largar, principalmente porque tenho a missão de orientar as crianças e os mais jovens que estão chegando”, disse o mestre, olhando para a pequena Evelly, que dança no maracatu há três anos.

Também dividiram a mesma paixão e o mesmo fôlego o mestre Nelson, que tem mais de 40 anos de brincadeira de caboclinho e está à frente do Caboclinho Sete Flechas de Goiana desde 1991, e a pequena Emly Souza, de apenas quatro anos. “É importante ajudar e estimular essas gerações porque senão a nossa cultura morre”, ensinou mestre Nelson, cheio de satisfação.

O mesmo cenário se repetiu na cultura do bumba-meu-boi, tendo como protagonistas José Ricardo Barboza, 45 anos, e o jovem Anderson de Lima, de 13. Compartilhando do mesmo sentimento que une gerações de artistas, eles dançaram no pátio de eventos da Estação do Forró em Serra Talhada na apresentação do Boi Cara Branca, de Limoeiro. “Eu gosto demais dessa brincadeira e estou aprendendo com os mais velhos”, reforçou o garoto, montando numa ‘burrinha’ seguindo o mesmo ‘galope’ de José Ricardo, que faz o papel do capitão no folguedo.

Outro exemplo de que a cultura se imortaliza na passagem do aprendizado foi dado pela rainha do maracatu de baque virado Estrela Brilhante, Marivalda Maria dos Santos, 62 anos, tetra campeã do Carnaval do Recife. “Estou há 20 anos nesse maracatu e não canso de brincar. Vejo muita gente nova tomando gosto por essa brincadeira e isso me motiva mais porque a gente sente a vontade de ensiná-los”, comentou Marivalda.

Fechando a noite, o Palco Lampião, na Estação do Forró, recebeu as energias do Coco Raízes de Arcoverde e do grupo autóctone Cabras de Lampião, que é fruto do repasse cultural das gerações passadas e da ousadia pela manutenção da estética do cangaço junto aos jovens. A noite fechou coroada pela riqueza musical de Josildo Sá.