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Derrubada de avião revela interesses distintos de Rússia e Turquia na Síria
A derrubada de um avião russo pela Turquia nessa terça-feira inflamou a tensão na região e expôs os interesses dos envolvidos no conflito.
Após o ataque, o presidente russo, Vladimir Putin, disse que o ato era uma “punhalada pelas costas” feita por “cúmplices de terroristas” e prometeu “graves consequências” nas relações de Moscou com a Turquia.
A Turquia afirma que suas aeronaves atiraram no avião após ao menos 10 alertas de que ele estaria violando o espaço aéreo turco, o que Moscou nega.
De acordo com Putin, a aeronave russa estava participando de uma operação contra o grupo autodenominado “Estado Islâmico”.
Apesar da contundente reação de Putin, é pouco provável que haja um ruptura total de relações entre os dois países, de acordo com Famil Ismailov, editor do serviço russo da BBC.
“É uma tremenda dor de cabeça para a Rússia, que pode se transformar em um verdadeiro pesadelo, mas ambos os países têm muito a perder se chegarem a uma rupture das relações”, disse Ismailov, acrescentando que é preciso lembrar que os dois países têm um comércio bilateral que em 2014 ultrapassou os US$ 30 bilhões.
O ataque poderia influenciar o cenário das potências globais envolvidas na guerra síria, especialmente no que diz respeito aos pontos mais polêmicos, como o futuro de Assad.
Entenda quais os interesses da Rússia, da Turquia e das outras potências globais e regionais envolvidas na guerra.
Rússia
A Rússia é um dos mais importantes aliados internacionais de Assad, e a sobrevivência do regime sírio é fundamental para manter os interesses russos no país.
Essa aliança resultou, por exemplo, no fato de Moscou ter bloqueado resoluções importantes contra Assad no Conselho de Segurança da ONU. Além disso, a Rússia mantém o fornecimento de armas aos militares sírios, apesar das críticas da comunidade internacional.
Um dos interesses do governo russo é proteger a instalação naval que mantém no porto sírio de Tartous, que serve como a única base russa no Mediterrâneo, para abrigar sua frota no Mar Negro.
Em setembro de 2015, a Rússia começou a lançar ataques aéreos contra rebeldes, afirmando que os alvos eram Estado Islâmico (EI) e todos “os outros terroristas”. No entanto, grupos apoiados pelo Ocidente foram atingidos no ataque.
Turquia
O governo turco tem sido um duro crítico de Assad desde o começo da guerra na Síria.
O presidente Recep Tayyip Erdogan chegou a dizer que seria impossível para os sírios “aceitarem um ditador que provocou a morte de até 350 mil pessoas”
Mas por ser um dos principais aliados da oposição síria, a Turquia tem enfrentado o fardo de abrigar quase 2 milhões de refugiados sírios.
Sua política de permitir que rebeldes, carregamentos de armas e refugiados passem por seu território tem, no entanto, beneficiado também aos jihadistas estrangeiros que querem se filiar ao Estado Islâmico.
Depois de um ataque do EI em julho de 2015, os turcos autorizaram a coalizão contra o EI liderada pelos EUA a usar suas bases aéreas para lançar ataques em território sírio.
Por outro lado, a Turquia tem criticado o apoio da coalizão aos milicianos curdos do grupo Unidades de Proteção Popular (YPG), que é ligado ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), considerado um grupo terrorista pela Turquia, pela União Europeia e pelos EUA.
Estados Unidos
Os Estados Unidos acusaram Assad de ser o responsável por atrocidades e defendem que ele tem deixar o poder. Mas acredita que é preciso um acordo negociado para pôr fim à guerra, além de defender a formação de um governo de transição.
Os americanos apoiam a principal aliança opositora na Síria, a Coalizão Nacional, e fornecem apoio militar para rebeldes que considera moderados.
Desde setembro de 2014, os EUA estão fazendo ataques aéreos contra o “EI” e outros grupos jihadistas na Síria, integrando uma coalizão internacional que combate os grupos extremistas.
Mas Washington tem evitado intervir em conflitos entre as forças de Assad e os rebeldes.
Um programa dos EUA para treinar e armar 5 mil rebeldes sírios para combater o EI sofreu uma série de reveses constrangedores, com poucos conseguindo chegar ao campo de combate.
Arábia Saudita
O reino sunita defende que Assad não pode ser parte da solução para o conflito e precisa passar o poder para um governo de transição ou ser removido do poder à força.
Riad é o maior fornecedor de assistência militar e financeira a vários grupos rebeldes e já pediu que fosse criada uma zona de exclusão aérea, imposta para proteger os civis de bombardeios pelas forças do governo sírio.
Líderes sauditas se irritaram com a decisão dos EUA em não intervir militarmente na Síria, após um ataque químico ocorrido em 2013 e atribuído a Assad.
Mais tarde, eles concordaram em participar de uma coalizão liderada pelos americanos contra o EI, já que estavam preocupados com os avanços do grupo e sua popularidade entre uma minoria de sauditas.
Irã
Acredita-se que essa potência xiita esteja gastando bilhões de dólares por ano para apoiar o presidente Assad e seu governo xiita alauíta, disponibilizando conselheiros militares e armas subsidiadas, além de linhas de crédito e fornecimento de combustível.
Assad é um dos aliados mais próximos do Irã, e a Síria é o principal ponto de transição para o carregamento de armas iranianas para o grupo islâmico xiita libanês Hezbollah.
Acredita-se que o Irã também tenha influenciado na decisão do Hezbollah de enviar combatentes para o oeste da Síria para auxiliar as forças pró-Assad.
Milicianos do Irã e do Iraque que dizem que estão protegendo os locais sagrados da Síria também estão lutando ao lado das tropas sírias.
O Irã propôs uma transição pacífica na Síria que culminaria em eleições livres.
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